Revista Overmundo nº 2

Viktor Chagas
1/8/2011 · 0
 

Bem-vindo a uma nova fronteira na experiência da diversidade cultural brasileira. A Revista Overmundo nº 2 está no ar. E traz, como tema principal para suas pautas, uma investigação sobre as "fronteiras" que nos permeiam. Na versão em PDF ou na versão aplicativo para iPad, você vai se deliciar com pautas curiosas e textos interessantíssimos. Quer a prova?

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Editorial

Quando a Revista Overmundo foi lançada, em maio último, sabíamos que uma fronteira havia sido cruzada. O Overmundo deixou de ser apenas um site voltado para a divulgação da diversidade cultural brasileira e se tornou – nas palavras que usamos na edição passada – um circuito integrado de comunicação colaborativa. Mas, ao contrário dos grandes complexos midiáticos, o site permanece sendo a porta de entrada do Overmundo. É através dele que alcançamos os extremos e os recônditos, fronteiras de dentro e de fora de uma identidade cultural tão rica e desafiadora como a do Brasil. Foi pensando em como desbravar essas histórias limítrofes que elegemos como bandeira para nossa segunda edição justamente esta ideia: a de “fronteirasâ€.

A diversidade cultural brasileira sempre foi um dos principais motes do Overmundo. Por aqui, impera a percepção de que, para as práticas e manifestações culturais, o que não há são fronteiras. Ou melhor, as fronteiras estão aí para serem constantemente relativizadas, encurtadas, transpassadas – e além. Afinal, será mesmo que existem limites geográficos, temporais, de linguagem ou de geração para a cultura?

O estilhaçamento das fronteiras pode ser observado no sincretismo religioso. Na antropofagia na literatura e nas artes plásticas. Na culinária típica de duas regiões diferentes. São festas tradicionais que se iniciam em um município e são ressignificadas por outro. Gêneros musicais que se mesclam de forma quase indissociável. Cultura de todo o Brasil, importada e até exportada para outros países.

Veja, por exemplo, o caso da fronteira entre o que é ser artista e o que é ser público. Yuri Firmeza, que gentilmente nos cede algumas das obras que ilustram esta edição (inclusive nossa capa), traz algumas inquietações ao debate. Também o jovem escritor Leonardo Villa-Forte provoca toda uma reflexão sobre o papel do autor e o papel do leitor com os seus MixLits, contos curtos que remixam frases de outras obras, à moda do que fazem na música os DJs. Leonardo é “o DJ da Literaturaâ€.

Outro escritor, o “brasiguaio†Douglas Diegues também brinca com as fronteiras, mas a travessia que ele propõe é a da língua como elemento nativo. Douglas cria e executa o “portunhol selvagemâ€, um idioma sem ordem, sem gramática, sem restrições. A principal regra é a transgressão. Douglas, como outros brasileiros da fronteira entre o Mato Grosso do Sul e o Paraguai, vive e convive com uma interessante e espontânea mistura de português, castelhano e vários outros idiomas. Por sinal, como elemento marcante das fronteiras, as línguas ganham destaque nesta edição da Revista Overmundo. Como exemplo, ainda no Mato Grosso do Sul, assinalamos o ressurgimento do nhengatu, espécie de esperanto regional, que possibilita o intercâmbio cultural entre brasileiros, indígenas e outros povos latino-americanos.

A língua também pode ser o elemento usado para fortalecer uma identidade. Este foi o artifício encontrado pelos operários da Companhia Vale do Rio Doce em Itabira (MG). Dado o contingente substancial de estrangeiros e a distância social entre empresários e peões, os funcionários criaram para si um idioma próprio – espécie de “língua do Pâ€, em que se troca a primeira consoante da segunda sílaba com a da primeira, em cada palavra. A “guilagem camaco†(ou linguagem do macaco) acabou se desenvolvendo e hoje é quase nativa de todo itabirano. E çovê? Base lafar guilagem camaco?

Nomes, como línguas, também criam seus universos particulares e firmam identidades no imaginário popular. Por conta disso, a capital de Santa Catarina, Florianópolis, trava uma batalha peculiar pela memória de seu nome original. Alguns habitantes, diz-se, não se identificam com o atual designativo, cunhado para homenagear o Marechal Floriano Peixoto. Eles preferem se identificar como moradores da vila de Nossa Senhora do Desterro, ou simplesmente, Desterro, homônimo de outro município, na Paraíba. As fronteiras podem, afinal, ser históricas. E também – como não? – elemento de disputas. Disputas, diríamos, inclusive folclóricas. O conflito entre maranhenses e piauienses pela origem do boi-bumbá é tão imaginativo quanto a própria lenda e seus festejos. A velha contenda Autenticidade vs. Espetacularização que ecoa nas festas de bois, como as de Parintins, no Amazonas, chegou às quadrilhas e festas juninas no Nordeste e às cirandas no Norte. Com direito a um cirandódromo de Manacapuru (AM), um exemplo de rompimento da fronteira entre inovação e tradição.

Falamos tanto em fronteiras físicas, identitárias, de memória, mas não podemos esquecer o limite sentimental. Qual é, por sinal, a fronteira entre a alegria e a tristeza? Do pó ao pó, esta edição traz ainda o curioso caso do bar que ao mesmo tempo é funerária em União (PI). Há quem beba o morto, há quem chore a saideira…

Enquanto isso, outros batucam. Ou melhor: outras. Na Banda Batalá, grupo de percussão transnacional, criado por um baiano na França, tocam mais de 140 mulheres ritmistas.

Quase uma lição de vida é a trajetória do rapper MC Adikto, que abandonou as drogas para fundar sua Escola de Rimas, em Vitória, e ensinar os mistérios do hip hop. Da conscientização ao empreendedorismo, o exemplo de Gilmar da Tapioca, o vendedor que criou versões e paródias de clássicos do funk nacional e hoje é dono de um império de carros de som, é não menos emblemático.

E, para encerrar, voltamos ao Mato Grosso do Sul para nos deliciarmos com a gostosíssima sopa paraguaia. No friozinho do inverno, nada mais aconchegante do que sorver uma sopa quentinha, certo? Pois a sopa paraguaia, para a nossa surpresa, é bem sólida, quase um suflê. Quer provar? A Revista Overmundo tem a receita...

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