Exposição “A Pele do mundo†traz obras inéditas e traça retrospectiva de duas décadas do artista Floriano Romano
O centro cultural Futuros - Arte e Tecnologia recebe a exposição A Pele do mundo, de 8 de julho a 27 de agosto, com obras de Floriano Romano selecionadas a partir de uma trajetória de mais de duas décadas de produção. Estão expostas aqui as obras Espreguiçadeiras Sonoras (2016), Chuveiros Sonoros (2008), Turbina (2012-23), assim como peças inéditas como a instalação Esquinas, a série de pinturas Esquinas e o vÃdeo documentando a performance Máscara Sonora, todas de 2023 e produzidas especialmente para essa ocasião. A mostra tem patrocÃnio da Oi e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, e apoio cultural do Oi Futuro. A produção executiva é de Déborah Zapata e a curadoria de Michael Asbury.
Em seu texto curatorial, Michael Asbury, analisa: “O tÃtulo da exposição, A Pele do mundo, evoca duas singularidades que se relacionam entre si: o Eu e o Mundo. A pele cobre, envolve, abrange o Eu em sua totalidade. Ela delimita este espaço e estabelece a parte perceptÃvel do Eu ao Outro e a parte sensÃvel do Outro ao Eu. Podemos pensar na pele como uma forma de interstÃcio sensÃvel entre o dentro e fora, uma pelÃcula obstrutiva, protetiva, mas também porosa e receptiva aos estÃmulos externos. Enquanto a pele separa o indivÃduo do resto do mundo, o mundo nos une dentro da sua própria camada porosa e protetiva: a atmosfera. É dentro desta macrodelimitação que a transmissão do som se torna possÃvel. Se nossa pele denota o indivÃduo e estabelece sua presença aos outros, a noção de uma pele do mundo evoca a complexidade de um corpo coletivo conectado, entre outras maneiras, pela transmissão de sons.
O conjunto de obras revela o processo de transposição, de deslocamento do som que caracteriza o trabalho do artista. Estes sons, retirados de suas fontes, manipulados e transladados por Romano geram situações inusitadas e muitas vezes lúdicas. A paisagem sonora que pertence ou que é associada a um item qualquer, seja um aparelho ou um lugar, é assim transposta para fora da pele metafórica que a delimita. Alternativamente, o som em si substitui a coisa que o produz. Sua identidade, atribuÃda ou definida pelo nosso senso de audição, é justaposta a outros sentidos como o toque e a visão.
Com esta exposição, Romano demonstra que ele não é apenas um artista sonoro, mas está igualmente preocupado com questões da arte ligadas aos nossos outros sentidos. A obra de Romano quebra a divisão semântica que delimita os diversos campos ou disciplinas da prática criativa. Ele o faz através de outra conjunção que explora uma porosidade, que é frequentemente negligenciada, entre as histórias da arte sonora, da arte participativa, e da fenomenologia da arte em geral. Aqui, cada uma, de forma distinta, mas interconectada, evoca o legado cultural de uma cidade como o Rio de Janeiro e aponta para um questionamento mais amplo do tempo da história da arte: um tempo não cronológico, assimétrico e desigual, um tempo que pertence à chamada arte global. Se 'o museu é o mundo', como dizia Hélio Oiticica, para Romano a pele do mundo revela a porosidade e as obstruções entre um e o outroâ€, conclui o curador.
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