A mulher que matou os peixes... e outros bichos

Está anunciado na seção de teatro infantil dos sites, revistas e jornais. O horário é de teatro infantil. Mas os adultos não devem perder este espetáculo. Arrume uma desculpa, leve os filhos-sobrinhos-e-filhos-de-amigos que não devem perder também. Fui ver esta peça hoje e me diverti muito. Fiquei comovido também (e me diverti com a maneira como a comoção vira assunto da peça). Sou suspeito: sou fã de Clarice Lispector, sou fã dessa série de histórias infantis que ela escreveu (e penso que todos os seus outros escritos têm algo de infantil: coisas de quem está descobrindo o mundo a cada instante, o belo e o trágico do mundo ao mesmo tempo). Mas gostei muito mais que imaginava que iria gostar. A maneira como o texto dos livros se transforma em ação teatral é cheia de soluções muito criativas, de poética sutil mesmo com explosão de cores e recursos. Há vídeo, música, luzes, figurinos, objetos cênicos carregados de múltiplos significados. Mas o clima onírico-pop-multimídia tem resultado bem concreto, tudo bem Clarice (existe mulher mais concreta do que ela?). Poderia ficar aqui horas falando sobre outro aspecto interessantíssimo da montagem: uma constante (meta)reflexão sobre a brincadeira infantil como teatro (o que me levou a pensar, um tema que adoro, no talento brasileiro [talento bem infantil, ainda bem] para criar festas populares, quase sempre chamadas pelos próprios criadores de brincadeira... a parte da peça da briga de dois cães representados por um macaco e um dinossauro de brinquedo é especialmente inspirada...). Mas isto aqui é apenas uma dica de agenda, não um ensaio sobre a vida e o brincar... Então é isto mesmo: não custa repetir: não perca esta peça!