Foi amoado pro meio do mato, babando, cheio de espuma escorrendo da boca, foi morrer sozinho. Bichinho simpático, cria de cadela de estrada, parido ao relento. Não tinha nem oito meses e antes que aprendesse na porrada a não atrapalhar o almoço de praia dos burgueses, o dono da birosca lhe ofertou carne com chumbinho. No dia seguinte, o assunto não era outro, a notícia correu a vila e acabou juntando um punhado de gente querendo tirar satisfação com o Fabão, dono do boteco. O vira-latas não tinha dono mas era malandro, brincalhão. A cada dia dormia num quintal diferente, era querido pacas. A pequena multidão gritou, xingou, ameaçou, mas na hora do pega pra capar pintou polícia e, por um triz, mais um ponta-pé ou outro, não houve linchamento. O jeito foi desbaratinar, dar um tempo, um lance meio “férias forçadas”. Tirou uma grana boa do colchão e se deu - de barão – quinze dias numa outra cidade qualquer do litoral onde ninguém o conhecia. Quando o precioso fazmerir acabou, não querendo privar-se do conforto, resolveu voltar. Com o ar esnobe de sempre e crente que “aquele bando de zé povinho” já teria se esquecido do incidente com o maldito do cachorro pentelho que, uma hora ou outra, ia acabar torrando a paciência de algum cliente. Pois bem, voltou. No final de um longo dia de viagem, faminto e querendo cama, olhou pra sua casa e entrou em choque. O cenário era desolador, as paredes esfaceladas, o teto caído, muitos móveis ainda em brasa. Quando conseguiu parar de tremer e de esbravejar, com o cú na mão, começou a correr em direção ao boteco. Exceto as pichações em protesto, intacto. Estava puto mas sentia alívio. Como o problema não tinha solução imediata, puxou uma cadeira e se pôs a encher a cara. Não demorou pra aparecer um tipo jovem mochileiro querendo saber se podia pedir uma dose de cachaça. Fabão já ia fingindo que não era com ele, mas achou melhor atender o moço. Fritou mandioca, pegou a pimenta, fez uma porção de petisco, abraçou a garrafa e desatou o desabafo no único ombro disponível. O rapaz passou horas ouvindo religiosamente tudo o que Fabão tinha a dizer. Pra lá de bêbado, quando finalmente cansou-se das xurumelas todas, levantou-se com dificuldade, soluçou, jogou um punhado insignificante de trocados sobre a mesa, deu três tapinhas nas costas do Fabão e disse: - É seu velho covarde. Pode tudo. Só não pode:.....?! Ficar triste!
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