ERA UMA VEZ O ANO DE 1991

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odracir sotnas · Vitória da Conquista, BA
19/3/2007 · 22 · 0
 

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Ulisses se perdeu um pouco antes de encontrar o prédio certo. Ele não anotou o endereço, mas sabia qual era a rua, que o nome do prédio tinha a ver com o mar, o número do apartamento era 502 e que a mãe de Bruno se chamava Ana (de que mesmo?). Era uma tarde de sábado com quase ninguém por perto, mas ele se informou e conseguiu chegar sem muito atraso. Quase duas semanas depois de aulas começarem, Bruno, o menino magrinho bonitinho (segundo as meninas), seu Madruga (segundo os meninos), recém-chegado no colégio e na sala de Ulisses, chamou três ou quatro colegas para jogar videogame e bola. Na verdade, Bruno queria entrar para a turma que Ulisses, quer dizer, Jimmy, fazia parte. Um bando de nerds sem óculos, todos fãs de games, quadrinhos, rock e filmes de terror.

“Entre, meu filho!”, disse a mãe de Bruno, que abriu a porta com uma simpatia e uma beleza madura que confortaram Ulisses.

Bruno foi até a sala recebê-lo. No quarto dele, já aos gritos e dizendo palavrões e se policiando, estavam Alex e Catatau com os joysticks na mão. Tinha uma pilha considerável de cartuchos de Master System ao lado do console. Comeram pipoca. Tomaram refrigerante. Ferrugem chegou. Na vitrola de Bruno, ouviram Paralamas, Titãs, Iron Maiden, Metálica. Conversaram sobre futebol, as conseqüências do Plano Collor II, a Guerra do Golfo, a decisão da porra do governo de aumentar o número de dias de aula naquele ano e a greve que acontecia em alguns colégios e em outros não; sendo este último o caso deles, infelizmente. Falaram mal dos professores, de outros meninos, dos pais, das gostosas da sala. Viram as revistas em quadrinhos de Bruno: X-Men, Homem-Aranha, Batman, Superman, Monstro do Pântano e outros super-heróis. Viram algumas Playboys e revistinhas de foto-sacanagem que um primo mais velho de Bruno lhe repassava, por um preço não tão camarada assim. Resolveram descer para jogar bola antes que não valesse mais a pena, antes que escurecesse.

Pouco depois das seis horas, retornaram ao apartamento. Catatau foi embora correndo porque tinha um aniversário para ir. Os outros não estavam com tanta pressa. Alex e Ulisses até aceitaram a sugestão da mãe de Bruno para que tomassem um banho. Ferrugem saiu sem se despedir de Alex, que estava no chuveiro.

“Por que te chamam de Jimmy?”, Bruno perguntou a Ulisses, que examinava melhor os carrinhos de ferro nas duas prateleiras no canto do quarto.

“Hum?... Ah, depois eu te conto essa história imbecil...”

Bruno não quis insistir. Perguntaria a outra pessoa.

Era a vez de Ulisses tomar banho. Diferente de Alex, que foi e voltou enrolado na toalha emprestada, porque Bruno disse que não tinha problema, que sua mãe não ligava, que a casa estava vazia, Ulisses, todo vestido, colocou outra toalha no ombro e atravessou o corredor, pensando se teria de usar de novo a mesma camisa suarenta. Poderia pegar uma limpa com Bruno...

E então aconteceu.

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Ricardo Santos é soteropolitano, estuda jornalismo e atualmente mora em Vitória da Conquista (BA)
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