Saiu pra comprar cigarros e caiu num buraco negro
A menstruação da matéria vai expandindo o espaço e o tempo que, exaltados, fazem estrelas e mundos. Em suas orgias criativas vomitam átomos de hidrogênio, que ovulam homens, monstros e outros predadores. Não creio em Deus como o criador de tudo, e sim como uma equação quântica em algum canto do Cosmos. Terminava, assim, o último capítulo do livro de Destino O. Magalhães, um astrofísico que acabara de concretizar um trabalho de 25 anos de pesquisas e estudos. Sua obra retrata a jornada do Universo desde a sua turbulenta infância, passando pela adolescência - na qual a matéria se separa da energia - até os dias de hoje. Havia um capítulo especial sobre buracos-negros, tema sobre o qual ele ministrava aulas na Universidade de São Paulo.
Também por 25 anos viveu entre o trânsito da Marginal Pinheiros, em São Paulo, as aulas e a casa em Embu, onde morava com Paz, sua esposa por 26 anos. Não tinham filhos e ela sofria da Síndrome das Pernas Inquietas que, associada à depressão, a levou ao suicídio.
Destino acreditava que a natureza havia conspirado e misturado os ingredientes certos para o capítulo final de sua vida. Largou tudo e foi embora num redemoinho de acontecimentos - terminava sua primeira infância como adulto.
Aninhada entre montanhas frias, intermináveis e o Oceano Pacífico, fica a cidade de La Serena, no Chile. Também numa dessas montanhas, Cerro Pachón, está localizado um grande complexo de observatórios astronômicos, entre eles o sítio do Observatório SOAR, onde Destino, agora, exercia sua função de astrofísico. À noite, ele vasculhava as profundezas do céu com o poderoso olho do telescópio e remetia as informações para o laboratório nacional de astrofísica no Brasil. E, naquele pequeno paraíso do vale Elqui - estreita franja de terra onde nascem uvas e cactos - ele passou a viver. Durante o dia perambulava pelos cais de La Serena e pelas destilarias de pisco, que se amontoavam ao longo da estrada árida.
Apaixonado pela obra da poetisa chilena Gabriela Mistral, que nasceu ali, Destino acabou por conhecer Andrômeda, uma mulher misteriosa e bela, proprietária de uma mariscaria na beira do porto, cujas paredes eram repletas de poemas, fotos e informações sobre a poetisa. Servia peixes, frutos do mar, piscos e vinhos. Andrômeda tinha nascido no Brasil e morava no Chile desde criança, época em que seu pai fazia serviços para a embaixada brasileira em Santiago - La Serena era seu último porto.
Nas azuis revoadas da tarde passava um bando de aflição que seguia rumo à Cordilheira dos Andes. Era quando Destino terminava seu último gole de pisco antes de ir para o monótono trabalho de observar estrelas. Destino O. Magalhães, que era a síncope do desatino, agora vivia em paz e embriagado ao lado de Andrômeda na mariscaria.
Quase todas as noites Destino subia até o sítio do telescópio, observando paisagens do céu. Numa noite, ele parou o carro, desligou a chave e saiu caminhado rumo a uma margem da estrada. Abaixo, numa ribanceira, havia centenas de ovelhas, dormindo como se fossem veladas pelo braço da Via-Láctea. Aquele clima semi-árido e as alturas davam a impressão que podia se alcançar as estrelas com as mãos. Junto às ovelhas dormia também um menino, tinha pouco mais de 13 anos, aparência do rosto era de um peixe – uma espécie de má formação genética. Apesar de ter a fala primitiva, o garoto possuía inteligência superior, compreendia tudo e era entendido pelo astrônomo.
Menino-peixe, como Destino o chamou, disse que era nascido num lago perto dali, fora gerado por salmões e agora pastoreava a noite junto com as ovelhas.
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Destino sonhou em si mesmo e viveu o inimaginável.
Um grão de areia que soube ser grande, maior que buracos negros...
Uma beleza de causo, que só vem provar o talento de Arlindo das Belas Imagens.
Parabéns!
Gosto muito do seu estilo, gosto de ser evocada por imagens tão belas, misteriosas. Tudo mesmo tão amplo , imaginado e inimaginável que a força do universo provoca.é como se experimentasse ser astronauta das palavras. flutuando... fascinada. Grave???? (rs) sem gravidade...
abraço.
Salve Rangel!(poesia até os ossos).Vc. deixou o carnaval de lado e veio dar uma força pros amigos?
Que bom.Imagine um telescópio ali em Piraputanga! - em riba do chapadão...
Obrigado meu amigo!
Salve garota da Paraiba!
Astronauta das palavras,gostei!
A literatura já foi considerada perigosa em algum tempo. Existe razão nisso - ela tem o poder de influenciar. Outro dia vi um filme,ficção, fahrenheit 451 (François Truffaut.), fiquei curioso quanto ao título.De acordo com o diretor frances, é a temperatura que um papel pega fogo,no caso o livro.O filme é uma história surreal sobre uma sociedade que queimava livros... por aí.(A intenção era esta mesmo,queimar livros para não propagar ideias).
É possivel tudo através da literatura,imagino que foi a maior invenção da humanidade - a escrita.( como diria minha avó; cuidado com o que vc lê!).
saudações pantaneiras
o poder do verbo no tempero de Arlindo... grata.
outra pérola! mais uma dose please. Rod Tex
Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 19/2/2007 21:34
Bia!
Que bom que aparecestes!
muito obrigado,garota!
RodTex
Hoje os meus vizinhos deram o ar das graças...
Salve Rodrigo!
muito obrigado mais uma vez.
saudações
Vou direto no assunto: vamos articular um encontro Overmundo MS? Já rolou em vários estados. Vamos nessa? Quem se habilita? abs
Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 19/2/2007 21:54
encontro!
Pode contar comigo.
Podemos planejar depois do carnaval.
abraços
Pronto, mais um dos teus contos que descubro e gosto. É um estilo.
Camafunga · Pelotas, RS 20/2/2007 08:39Overmanos uni-vos! Tem a possibilidade do encontro com lançamento do Fábio Fernandes aqui... Tô nessa!
Bia Marques · Campo Grande, MS 20/2/2007 09:53
Realmente o Arlindo tem estilo.
Cria seus contos com o rigor das equações matemáticas e quando os lemos eles se descontroem em nós embalados na surrealidade das palavras. É como uma bomba que nos acorda para uma realidade completamente diferente ou nos remete a outro mundo: a matemática monta-a, o nosso contato(manipulação) a faz explodir, remetendo-nos a outro mundo.
Realidade ou loucura?: o que for está bem afinal como sempre digo 'são loucos os que têm a certeza de estarem lúcidos'.
abcs
meu amigo e poeta!
Eu senti tua ausencia.
Fico feliz por estar aqui.Só amigos dizem coisas bonitas assim!
Muito obrigado.
Abraços
Camafunga!
Salve garoto de Pelotas!
Que bom que vc gostou.Quero lançar um livro de contos e vender um m ilhão de cópias ... (risos).
saudações pantaneiras !
Por que não pensar em buracos brancos?
Buracos negros cantam uníssonos no pavilhão auricular do meu ouvido. A freqüência do canto, porém, é de tal modo insólita que ouço apenas um murmúrio, como ostras trepando. Por anormal que eu pareça não convencido diante do buraco ofertado lanço-me a uma explicação transcendental: trata-se de um certo signo em coma entre a vigindade da menina e a fímbria imaculada do infinito.
Para senti-los não preciso ter acuidade extra-sensorial basta morrer, seja a morte natural ou inatural e despojar-me em todos os sentidos. E de todos os sentidos. E partir rumo a novos buracos negros. Ou brancos. Por que nunca terá alguém pensado em buracos brancos?
O que tu escreves eu vejo dentro de mim em minhas mandalas.
Acho que acabo de entrar num buraco negro!
Ah, quanta luz você trouxe, Arlindo.
Da junção de suas palavras sai mesmo um ar lindo...
Meu amigo, Arlindo.
Seu texto é fantástico (você recebeu a revisão?). A exuberância de suas imagens nos remete ao pensamento sideral, onírico. Sua capacidade criativa – aliada ao conhecimento sobre os mistérios do cosmos – tece histórias deliciosas de uma maneira quase natural, como se fora um artesão místico de uma literatura ímpar, pessoal e mágica que – parida no Pantanal – impõe-se cada vez mais como imprescindível no nosso universo literário. A originalidade e o brilho do seu texto têm a força de uma supernova – como um útero primordial de singularidade que gera novos limites e desafios à criação textual. Mais uma vez, obrigado por escrever, amigo. E publique rápido! Um grande abraço.
muito bom texto. boa descoberta, para mim. abraço.
André Gonçalves · Teresina, PI 5/3/2007 14:38Para comentar é preciso estar logado no site. Fa�a primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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