A mesmice da informação

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Marvin Kennedy · Lauro de Freitas, BA
1/6/2007 · 25 · 5
 

Datas comemorativas, fatos históricos e temas como mulher, negros e homossexualidade estão sempre na pauta dos veículos de comunicação. Porém, ano após ano, estes temas são tratados da mesma forma, sem uma sensibilidade diferente que nos traga algo de novo sobre os assuntos pautados. O que parece ser informação, não passa de notícia reciclada. O que parece ser novo, é velho e já foi utilizado.

Em um único dia, duas vítimas da reciclagem de notícia. Quinta-feira, 12 de outubro de 2006, Dia das Crianças e Dia de Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do Brasil. Os jornais noticiavam manchetes repetidas sobre o movimento nos shoppings, aumento da venda de brinquedos, o incremento financeiro na indústria infantil e sobre a peregrinação de fiéis católicos ao Santuário de Nossa Senhora, no Vale do Paraíba em São Paulo.

As matérias mostravam a alegria de crianças que ganhavam o brinquedo novo, o empresário sorridente pelo aumento do faturamento, a angústia daqueles que deixaram para comprar o presente de última hora e enfrentam filas quilométricas. Os textos também traziam o sofrimento de peregrinos que saem do Nordeste para rezar no altar de Nossa Senhora, o peso da cruz de um fiel e as bolhas nos pés, “cultivadas” com suor e fé.

Apenas o Correio da Bahia, na edição de 12 de outubro, trouxe algo diferente, mas não deixou de fazer as matérias “chavões”. O jornal publicou uma matéria sobre a violência contra as crianças negras e pobres, trazendo números que mostra um Dia das Crianças diferente de todos os outros vistos nos jornais e na tevê.

Os ataques ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001 passou a ser uma destas “datas comemorativas”. No dia em que se completaram cinco anos do atentado terrorista, os jornais trouxeram as mesmas fotos do momento em que o segundo avião choca-se com a torre e os textos trouxeram os de sempre, números de mortos, aqueles que não morreram por pouco ou aquilo que muitos já viveram, a dificuldade para entrar no EUA e o preconceito com os islâmicos. Poucos fizeram referências a Bin Laden, ao fundamentalismo islâmico ou a política adotada por George W. Bush, que acabou por desencadear tal terror.

As notícias que tratam destas pautas “temáticas”, em sua maioria, nunca trazem algo de novo. As pautas são tratadas como produtos, das empresas de comunicação e não trazem nada de diferente do que foi produzido no ano anterior. Parecem ser produzidas como que uma linha de produção fordista, onde tudo é igual. Mudam-se apenas os personagens, o tempo, os números, mas a essência é a mesma. A pauta é a mesma, tudo bem, mas o foco tem que ser o mesmo? Por que fazer sempre igual? Onde entra o novo, o diferencial? Será que nenhum repórter pode fazer diferente?
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Abre Aspas - Marcelo De Trói
“O jornalismo, enquanto processo industrial e de consumo, raramente consegue fugir da tal agenda anual de compromissos com a ‘mesmice’. O que influencia essa atitude midiática na minha opinião é a incapacidade do jornalismo de ocupar a esfera pública da comunicação social (sua principal função), transmitindo matérias de interesse público real; outra coisa é o fato de o jornalismo estar seriamente atrelado aos departamentos comerciais das empresas jornalísticas, ou seja, já existe uma expectativa tanto dos empresários da comunicação quanto de seus clientes de que os anúncios para o “dia das mães” gere algum tipo de matéria idiota sobre comportamento e sobre a especulação do sucesso da economia com as vendas, o “business”.
Junte-se a isso, a mentalidade medíocre da sociedade do consumo, e o desinteresse pela discussão de assuntos de relevância, porque em geral são chatos e dão dor de cabeça. Imagine se o jornalismo passasse um bom tempo discutindo como resolver o problema da saúde e da educação no Brasil? Também é preciso não abandonar o factual, a notícia, a informação, principal pilar do jornalismo.
Para driblar tudo isso é preciso inteligência para se transmitir à informação, princípios éticos e comprometimento com o ‘público’: repórteres e editores devem ser comprometidos e engajados, mesmo que isto custe censura ou perda de emprego”.
Marcelo de Trói é Jornalista, free-lancer e editor
do Caderno Aprovado. Realiza pesquisas
na área de imagem e som.

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Luiz Geremias
 

Parabéns Marvin. É incrível perceber que o que lemos diariamente nos jornais, ouvimos nas rádios e vemos nos telejornais é sempre a mesma coisa! E depois tem gente que chama isso de liberdade de imprensa!

Luiz Geremias · Curitiba, PR 31/5/2007 13:10
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Marvin Kennedy
 

Liberdade de imprensa ou de empresa? Eis a questão!

Marvin Kennedy · Lauro de Freitas, BA 31/5/2007 16:35
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Andre Pessego
 

Pois é Marvin, Ai entram duas questões: a repetição fixa; a repetição faz o saber ou a indiferença. A questão negro é extamente esta ultima. E é feita para a indiferença, para o distanciar-se. No caso dos tais ataques - o contrario fazer a mentira se tornar verdade. um abraço andre

Andre Pessego · São Paulo, SP 1/6/2007 19:20
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Marvin Kennedy
 

Existe terrorismo sem a mídia? Eis a questão de novo!

Marvin Kennedy · Lauro de Freitas, BA 2/6/2007 10:20
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Walquíria Raizer
 

Perfeito!
...o jornalismo de encomenda é como poetas de encomenda: técnicamente consumível, sem nenhuma gota de sentimento. Parabens pela pauta. Orgulha-me ler coisas assim.
Beijos.
Overmina em Construção

Walquíria Raizer · Rio de Janeiro, RJ 3/6/2007 11:48
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