São cada vez mais freqüentes as investidas de bandas curitibanas para fora de seu território
Houve um tempo em Curitiba em que se acreditava piamente que uma banda para ter chance de sobrevivência, próxima que fosse do profissional, tinha que se mudar para São Paulo ou Rio de Janeiro. Hoje esse pensamento já não é unanimidade e as investidas dos grupos curitibanos fora do seu território estão cada vez mais freqüentes, sem que isso exija, necessariamente, mudanças radicais de endereço. De tempos em tempos quem está habituado a percorrer o circuito de shows alternativos topa com algum deles: Relespública, Terminal Guadalupe, Pelebrói Não Sei, Charme Chulo, OAEOZ, Polexia, Faichecleres, Zigurate, Mordida, Dissonantes, Sugar Kane, Ovos Presley, Wandula, Os Catalépticos, Cores d Flores, Gengivas Negras, Bonde do Rolê, Índios Eletrônicos... e vai embora essa lista, pois os grupos proliferam na capital paranaense geração após geração.
A aceitação tem sido das melhores. Exemplos recentes: a Relespública lançou em abril o DVD MTV Apresenta. O Terminal Guadalupe, com o disco Vc Vai Perder o Chão foi escolhido o melhor entre os independentes de 2005 do prêmio da revista Laboratório Pop, com voto do público. Também é a banda que inaugurou entre os alternativos uma nova mídia de gravação de CD que barateia os custos, o SMD – aquela criada pelo Chrystian da dupla sertaneja. Além de em pouco tempo ter tocado nos principais festivais, participou, junto com a Poléxia, do CD tributo ao Odair José.
O Bonde do Rolê (foto), que faz “funk-indie”, foi citado entre os dez mais da revista Rolling Stone e está fazendo turnê pelos EUA e Canadá, junto com a Cansei de Ser Sexy, já com o disco de estréia produzido pelo norte-americano Diplo na mala. Enquanto isso, o Índios Eletrônicos está terminando a música que vai sair na coletânea do selo português Merzbau e já lançou também disco produzido via email em parceria com Glenn Hall, saxofonista canadense de jazz experimental, que já trabalhou com Lee Ranaldo (Sonic Youth). E não pára de produzir novos discos.
Elas fazem parte do chamado circuito independente da música brasileira – nesta reportagem entendido como o universo de artistas que trabalham sem o aparato de grandes gravadoras. Em Curitiba, essas bandas mais ou menos se articulam em grupos de afinidades que, de uma forma ou outra, contribuem para criar as mínimas condições para proliferar sua arte. A cidade tem um circuito de bares de estilos variados (estão nas dicas do Guia das cidades do Overmundo) e festivais (Curitiba Rock Festival, Metal Festival, Psychobbily Fest, Pscyho Carnival, Rock de Inverno, National Garage, Local, Tinidos, Curitiba Calling, Prasbandas). Só tem poucos selos. No geral, as bandas gravam e divulgam em shows para depois estabelecer parcerias de distribuição. É o caso do Pelebrói com a Monstro; Mordida, com o Senhor F; ESS, Wandula e Índios Eletrônicos, com a Peligro. O espaço em rádios, televisão e jornais também é escasso mas existe. Na tevê Paranaense (Globo) tem o Plug, programa que cada vez apresenta uma banda, entre outros assuntos do "universo jovem". No Canal Paraná (tevê pública) o espaço é no Enfoque, sobre arte e cultura paranaense em geral. Nas rádios Lúmen e 91 Rock tem programas produzidos por (e para interessados em) artistas locais. Entre estes está o Cena Local, feito pela vocalista da banda Cores D Flores Mariele Loyola, que (além de estar terminando o primeiro álbum, Paixão) também está articulando um circuito de sites para transmitir simultâneamente a rádio web Circuito CWB, com 24 horas com a produção musical paranaense.
A Relespública com seus 15 anos de existência também vive um bom momento – o seu melhor até agora, com o lançamento em abril do DVD e CD MTV Apresenta Relespública. É a primeira vez que um grupo paranaense alcança tal projeção. A empreitada foi junto com a única gravadora em atividade na cidade, a Vila Biguá, que bancou o projeto. E a Relespública é um bom fio da meada para uma conversa sobre a cena independente curitibana. O trio que começou a tocar junto na pré-adolescência já experimentou estar no casting de uma grande gravadora (Universal), não curtiu e voltou a ser independente. No caminho, 3 discos – uma demo-cassete impressionante e infelizmente pouco conhecida com o primeiro vocalista, Daniel Fagundes – e, nem eles devem saber, quantos shows. Com direito até ao Rock In Rio III. Na estrada desde que a música independente brasileira era dominada pela língua inglesa, Fábio Elias, Ricardo Bastos e Emanoel Moon sabem fazer muito bem canções que têm a energia do rock com pegada pop, várias delas estão no disco mais recente, As Histórias São Iguais, cantadas em coro pelo público.
Mais novos
Tanto Índios Eletrônicos quanto o Bonde do Rolê garantem que foi depois de começarem a “brincar” de My Space que tudo se precipitou, tornando, no caso do Bonde, o que era uma mera brincadeira entre amigos para espezinhar outros amigos, numa bola de neve que nem o trio acredita. Em entrevista quando a onda em cima deles começava a crescer Mariana Ribatski, Pedro Deyrot e Rodrigo Gorky contaram que “foi uma seqüência de sustos”. Primeiro, uma festa em Florianópolis – para a qual Gorky era DJ e ofereceu três pelo preço de um. Todo mundo cantou as músicas disponibilizadas no site do produtor. “Tinha umas 700 pessoas”, lembrou, ainda com espanto, Gorky. Depois Fredi, da gaúcha Comunidade Nin-jitsu, se enrodilhou pro lado do trio e acabou produzindo um disco-demo. Só neste ponto, conta o DJ, o Bonde foi pro My Space (Espaço virtual que congrega páginas com imagens, sons e textos tanto de gente que já está no estrelato quanto de bandas como as nossas independentes. Vai se adicionando amigos, ao modo do Orkut , e algumas pessoas ganham algumas surpresas mais especiais, como parcerias com artistas já consagrados).
Essa é a história do Bonde com Diplo. “A gente ficou sabendo por amigos que ele tinha incluído música nossa no set dele e depois ele respondeu no My Space. Conversa vai conversa vem surgiu o convite para inaugurar o selo dele”, lembra Gorky, garantindo, na época, que a banda ia “manter os pés no chão”. Mas, não mais agora, no instante em que o leitor do Overmundo tem este texto nas mãos, afinal em julho eles passaram por longas horas no ar por conta dos shows junto com Diplo e Cansei de Ser Sexy por Nova York, Montreal, Boston, Chicago, São Francisco, Washington, Seattle e Los Angeles. Na bagagem seguiu também o vinil de 12” que inaugurou o selo Mad Decent de Diplo. Agora, é bem possível que o leitor já tenha ouvido falar do tal "funk-indie-curitibano" inventado pelo trio que foi até considerado uma das dez bandas pra se prestar atenção no mundo, na avaliação da toda poderosa revista Rolling Stone.
Já no caso do Índios, a coisa toda foi mais planejada. Não com a pretensão de fazer sucesso ou coisas do tipo, mas com o intuito de experimentar mente e corpo, esticando as possibilidades sonoras, conforme a cartilha de gente como Lee Ranaldo, Sonic Youth e John Frusciante. Os "índios" são André Ramiro e João XXIII, que no palco promovem uma “intervenção-cerimonial-indígena hit tec”. A banda usa para traduzir suas experimentações duas guitarras, um verdadeiro arsenal de pedais e, pelo menos, oito amplificadores para serem combinados com ruídos vocais, além da participação de amigos e seus instrumentos. Os discos são gravados em sessões esporádicas de encontros e parecem jorrar aos borbotões, já que o duo promete fechar o ano de 2006 com 10 discos lançados. Eles já andaram aqui no Overmundo e deixaram uma pitada da experimentação no banco de talentos. Confira!
É uma lista enorme a das bandas existentes hoje só em Curitiba – e tem o que prolifera fora do eixo rotativo da capital em todo o Estado, além do hip hop e do circuito metal, ambos bem fortes. Não existe nenhum estudo ou pesquisa formalmente publicada sobre o assunto, embora a cidade seja, reconhecidamente, uma das mais profícuas na geração de bandas independentes desde o começo dos anos 90, movimentação que foi batizada de "Seatle brasileira" e que deu continuidade a uma história que começou a ter visibilidade no final dos 70, com A Chave, parceira de Paulo Leminski, primeira a ser reconhecida por fazer repertório próprio no Estado.
O curitibano sempre teve um jeitão “cada um na sua” de fazer as coisas, mas a geração atual de bandas está trilhando um caminho interessante, pondo mais a cara pra bater com bons shows Brasil afora. Talvez por esse jeito isolado de trabalhar dos grupos, o impacto na mídia acabe um pouco diluído, mas quem prestar mais atenção vai notar que ultimamente sempre tem uma banda curitibana fazendo bonito por perto.
Pra conhecer o um pouco mais a internet é o caminho mais rápido. Algumas dicas:
www.prasbandas.mus.br
www.movimentoleitequente.com.br
www.curitibaunderground.com
www.relespublica.com
www.myspace.com/indioseletronicos
www.myspace.com/coresdflores
www.myspace.com/bondedorole
www.movimentomusicacuritibana.kit.net
deinverno.blogspot.com
www.villabigua.com.br
amigosderamirez.zip.net
www.terminalguadalupe.com.br
polexia.com.br
...no dia em que todos os integrantes de todas as bandas citadas venham a unir seus instumentos numa banda única, nosso barulho derrubará a muralha da China!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
índios eletrônicos · Curitiba, PR 11/8/2006 16:33Parabéns Adriane! O rock pulsa longe dos centros neste país né naum? O Terminal Guadalupe tocou no Festival América do Sul em 2005 e fez bonito! Vida longa ao rock'n'rool'curitibano...
Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 12/8/2006 18:48o que eu acho mais legal é a diversidade da cena curitibana. tem muita gente legal produzindo, o tempo todo surgem novas bandas, os shows são bons, o astral é legal, os bares... tem os seus problemas pra enfrentar, óbvio, mas talento não falta.
Adriane · Curitiba, PR 12/8/2006 20:45Maravilha!!! É isso aí Adri! Há muita qualidade e diversidade aqui em Curitiba!!!
Karla Gohr · Curitiba, PR 15/8/2006 09:39Para comentar é preciso estar logado no site. Fa�a primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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