É Arraial do Cabo. Dos 35 km de areia, uma praia foi escolhida para a história se passar: Praia Grande, num comecinho de tarde. Sol meio cinza, quente, água muito fria. Final da faixa de beira-mar (ou início, depende de onde vem), barquinhos encalhados, muita gente concentrada olhando, moço vendendo empada, crianças correndo, dezenas de gaivotas voando bonito e aproveitando o recém-saído sol amarelo para se mostrar. Algo está acontecendo.
Arrastão: homens voltam do mar com enormes redes presas a seus barcos. Redes que saem da água ainda sem peixe. Todo mundo chega perto. Todo mundo é pescador, mesmo se não for. Todos puxam, comuns. A rede é uma babel.
Vêm os bichos. Uns enormes, dos quais aqui só se conhece o baiacu. Quem é da praia vibra. Gaivotas voam mais e mergulham kamikazes. Agora, pescadores reais parecem brotar da areia, como que dizendo: “agora é comigo”. São eles que pegam os peixes grandes. Os pequenos ficam na mão das crianças, que, obviamente, ficam alucinadas quando o baiacu vira balão.
Duda, pescador, conta que todo dia, meio no começo da tarde, aquela agitação acontece, e é sempre na hora do arrastão. “Só quando o tempo está muito ruim é que não dá pra fazer”, ele diz, “Vem Duda, corre logo pra ajudar, chega de corpo mole, parece que não quer trabalhar”, dizem pra ele.
Valdomir, morador da cidade há 40 anos, com pele e jeito de pescador, aproxima-se e fala mesmo antes da pergunta. “Não sou pescador, mas conheço de ver. Aqui, quem não vive da pesca não tem o que fazer. Eu mesmo não trabalho na cidade. Mas é uma vida tranqüila, com paz de não ter assalto”. Agora, qualquer pergunta. “E a água, como está fria, é sempre assim?”. “Não, só de novembro a março, a água está fria porque é época de lula”, explica, num raciocínio muito particular que faz pensar que a lula é a causa da água gelada, e não, sob lógica de senso urbano, conseqüência.
“É tubarão, é tubarão”, gritam. A lógica de senso urbano faz tremer, mas com a desconfiança de que dificilmente o pânico se valia. Não valia. Foi um baiacu que mordeu a mão de uma criança e agora não há o que fazer – hospital e injeção. Vida segue e os peixes já estão no caixote. Os barquinhos voltam para o mar, não muito adentro, já que a rede, diferente da prática de muitos arrastões, fica instalada ainda na costa.
É hora de aprumar. O moço da empada já foi. Muitos peixes mortos no chão fazem uma imagem triste. Os pescadores já não estão lá para ver, os barcos já fizeram sinal de avante. As crianças correm, como sempre. Os turistas se diluem, no mar, na barraca, na areia e aqui - pensando já como contar o que acabo de ver.
O vídeo ficou fantástico!
Bruno Nogueira · Recife, PE 10/11/2006 18:46
olá, thiago... fico feliz em retornar ao overmundo. vou ver se mantenho um regularidade nas minhas postagens.
obrigado pela dica. já tirei o texto de lá e vou postá-lo agora mesmo no banco de cultura. grande abraço.
e olha... adorei isso aqui. muito.
lá está... mas, o formato do banco de cultura é estranho. e ter que ter um arquivo associado ao texto, no caso de literatura... não sei. não parece o espaço adequado a publicação de uma crônica, não do ponto de vista conceitual, mas técnico.
o que achas?
Prezado Thiago. Antes de mais nada agradeço a sua visita a nossa cidade. A água nesta região é muito fria mesmo devido as correntes marinhas que chegam do sul num processo chamado ressurgência, daí o nome Cabo Frio (Cidade cujos Distritos de Arraial do Cabo e Armação dos Búzios se transformaram em novas cidades). Estas correntes marinhas trazem muitos peixes e por vezes alguns pinguins da Antártica. A Praia Grande é somente uma das belas e piscosas praias dessa região e posso dizer mesmo que não ví em minhas andanças nenhuma praia que se aproxime em beleza das aquí existentes. Mestre Vilinba
Mestre Vilinba · Arraial do Cabo, RJ 26/4/2007 16:26Para comentar é preciso estar logado no site. Fa�a primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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