Jailton Carvalho tem 42 anos, é repórter do jornal O Globo na sucursal de Brasília. Nascido em Águas Quentes, Bahia, estudou na UFBA. A mesma faculdade de Glauber Rocha. Veio a Brasília pensando em escrever sobre cultura, mas foi escolhido pela área de jornalismo político. Fez especialização de jornalismo político em Brasília e Trabalhou no Zero Hora, Correio Brasiliense, Jornal do Brasil e O Globo. Trabalha hoje na cobertura de escândalos, seção não oficial do jornal O Globo, área de difícil apuração. O Jornalista participou de uma entrevista coletiva com os alunos de jornalismo do Instituto de Ensino Superior de Brasília (IESB) sobre o relacionamento e consolidação de fontes na cobertura policial. Aconselhou sobre a importância da honestidade e da credibilidade para se conseguir boas fontes. A durabilidade da fonte é uma questão de se conseguir escrever uma matéria com força e impacto sem comprometer a fonte ou o sentido do texto, diz Jailton. O sigilo da fonte é uma garantia constitucional. A honestidade, para Jailton, é fundamental. Todo repórter quer derrubar um figurão, é um ponto a mais no currículo de um jornalista. As pessoas são conhecidas pelo grau de estrago que elas fazem em uma figura pública, afirma Jailton, se houver honestidade por parte do jornalista são ossos do ofício.
No escândalo dos anões, Franklin Martins perdeu um furo porque não acreditou na fonte, ou por soberba. Você já perdeu algum furo pelos mesmos motivos?
A soberba é o pior inimigo do jornalista. O jornalista metido a besta não vai a lugar nenhum. O jornalista precisa de todas as pessoas, desde a faxineira até o presidente da república. Há um ano, um suíço fugiu da prisão no Rio de Janeiro. Eu estava preocupado com outra matéria e não me dei ao trabalho de verificar a informação. Um mês depois outro jornal publicou a matéria.
Porque você escolheu essa área?
Na verdade foi o jornalismo político que me escolheu. Eu vim para Brasília estudar jornalismo político, mas pensava em fazer jornalismo cultural. Mas o jornalismo cultural está muito pasteurizado. Não é nem culpa dos jornalistas, mas estamos fechados no circuito europeu, a maioria das nossas informações chegam através de releases. A informação já vem pronta. O jornalismo político é original. Trata-se de uma polêmica que modifica a vida das pessoas. O jornalismo político se tornou o jornalismo de ponta no Brasil.
Qual o limite suportável do trabalho na cobertura policial a partir do momento em que o jornalista começa a ser ameaçado?
Por conta das matérias que eu fiz, fui ameaçado algumas vezes enquanto trabalhava no Correio Brasiliense. Em certo momento eu vi que a situação estava muito tensa, mexendo com interesse de muita gente de baixa instrução. Pessoas truculentas que se sentiram ofendidas por matérias minhas e poderiam querer fazer alguma coisa. Por coincidência nessa época o Jornal do Brasil me convidou e aceitei trabalhar lá, mas o jornalista não deve se intimidar. Para o jornalista correto, dificilmente alguém vai fazer algo contra ele. A não ser que seja um louco. Se alguém pede satisfações você fala “seus inimigos que recolheram essas informações e me passaram”. Não tenho relação de amor e ódio com a fonte.
Qual sua avaliação sobre o repórter Amaury Jr. que levou um tiro na barriga e quis abandonar o caso?
A polícia mata. Tenho horror de fazer matéria em que a polícia seja culpada. Não gosto de fazer matéria sobre corrupção policial. Mas no caso do Amaury Jr. foi um acidente de trabalho que poderia ter acontecido com qualquer um. Ele gostou da matéria, se envolveu com o ambiente, acho que ele estava se sentindo confortável no bairro. Tinha terminado o expediente, ele pediu uma cerveja e uma galinhada e se sentou no boteco para comer. Chegou um moleque, apontou a arma e disse “isso é um assalto!”. Acho que ele estava afetado pelas matérias que estava fazendo sobre o tráfico de drogas no local, estava tão afetado que reagiu. O moleque deu um tiro nele. Poderia ter acontecido com qualquer um.
Você já sofreu pressão para quebrar o direito de sigilo da fonte?
Já fui chamado perante juiz. Já prestei depoimento na polícia federal. Os documentos eram sigilosos, não podiam ser divulgados. Queriam saber quem era a fonte. Eu disse na maior educação, “respeito seu trabalho. Preciso dele às vezes. Mas quero que você saiba que se um dia me passar informação manterei o sigilo da fonte”.
Já manteve relação com alguma fonte criminosa?
Pra saber sobre o submundo da política você não vai buscar informação com a Madre Tereza de Calcutá. É natural quando você busca informação sobre o submundo. Você esbarra em pessoas envolvidas com crime.
Como fazer contatos se todas suas informações forem controversas, como no caso do acidente da Gol?
Quando fazia a cobertura do acidente de Gol eu telefonei para as assessorias de imprensa da aeronáutica. Todo caso sempre tem os canais oficiais. Eu liguei para uma fonte da aeronáutica. A fonte estava em casa dormindo, nem sabia da informação. Disse “espera aí que eu vou verificar”. Ligou para o comandante e conseguiu novas informações. Me disse que aconteceu um acidente com uma quantidade de pessoas a bordo, a possibilidade de sobreviventes era mínima. No outro dia os Índios que moravam no local apareceram e revelaram novas informações. Com uma informação daqui, outra de lá você monta o quebra cabeça.
Qual o limite de proximidade entre a fonte e jornalista?
Você não pode deixar que a fonte ache que é amor, que você é amigo dela. Acontece muito com mulheres. As jornalistas mulheres não precisam ser bonitas ou interessantes, elas são o fetiche dos deputados. O cara está no poder, ele é fonte do escândalo da semana. Todo mundo quer se aproximar, cria uma aura em torno dele. O sujeito se sente poderoso. Aí a repórter é bonitinha, novata, inocente, ele se interessa por ela. Cabe ao repórter decidir o que prefere. Se você quer informação tem que tomar cuidado. Se o sujeito vira seu amigo você começa a fazer vista grossa para os deslizes morais dele.
Gustavo Serrate
CARO JORNALISTA81...
O texto é interessante.
Se possível repasse "minha reflexão" para o "Jailton Carvalho".
A IMPRENSA NÃO É SPAM...
( Lailton Araújo )
O que é a imprensa? Ela está acima de críticas? Não é hora de uma reavaliação interna no coração da própria imprensa? Onde está o erro? O erro é por ação ou omissão?
A isenção de preconceitos e lavagem de roupa suja nas próprias redações é uma atitude necessária, para que se ponha, a casa da mídia em ordem! Todos os dias as tvs, rádios, blogs, jornais e revistas (pessoas e pessoas da própria mídia) criticam a "própria mídia", esquecendo-se da reflexão interna! Algumas informações diárias da "própria mídia" são contraditórias, parciais, maldosas e sensacionalistas! Onde está a verdade? Onde estão as verdades?
A imprensa tem que ser livre, equilibrada, consciente e imparcial. Não pode ter simpatias por partidos políticos! Deve ser isenta de ideologias! Tem que estar a serviço da verdadeira informação ao cidadão! Não pode ser comprada, vendida, trocada ou ultrajada! Precisa passar por cima dos governos, do poder econômico, dos patrocinadores, das redes de comunicações e das próprias linhas editoriais! A imprensa tem que ser a imprensa! Simplesmente livre e responsável!
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" Olhar o próprio rabo é o segredo de não ser mordido por um predador... É biologia! É o segredo da sobrevivência... "
Grande abraço!
Lailton Araújo
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