“Pra você que gosta de navegar no site / Eu vou apresentar a dança do Street Fighter”. Estes versos nonsense dão início a um dos hits do Carnaval de 2011, da dupla mineira de axé Mantena e JP. Em 23 horas na rede, o vídeo publicado no YouTube já tinha se tornado viral e atingiu os Trending Topics (assuntos mais comentados) no Twitter, com 2 milhões e 700 mil tweets com o link do vídeo.
“O jogo Street Fighter faz parte da nossa infância. Jogávamos em fliperama. Eu não tinha videogame em casa, então ia com os amigos para bares que tinham fliperama. Era aquela molecada”, diz Mantena, que, na verdade, se chama Fábio e é um dos cantores/dançarinos da dupla. Já JP, abreviatura de João Paulo, tinha em Ken, um dos personagens do jogo, um ídolo da infância. “Toda criança quer se identificar com algum personagem. Eu era ele, porque era bem branquelo e loiro. Para mim, é uma honra interpretá-lo.”
A primeira versão do vídeo foi apagada do YouTube. Na hora, houve rumores em sites especializados em games de que a Capcom, fabricante do Street Fighter, tivesse tirado o clipe do ar por conter imagens do novo jogo em 3D, que ainda nem foi lançado. “É só boato. Um dos sites que entraram em contato conosco disse que procurou a Capcom e eles disseram que não foram eles. Nem escritório no Brasil eles têm”, disse Mantena. A hipótese mais provável é de que algum hacker tenha entrado no usuário da dupla e apagado o vídeo.
Na dúvida, gravaram outro, em um cenário diferente e com outros personagens figurando, além do Ryu e Ken do original. “Vimos que muitos aficionados pelo jogo não gostaram, dizem que desqualificamos o jogo. Mas quem pensa assim não entende que na verdade é uma homenagem. Ainda bem que muito mais gente gosta e acha divertido”, afirmou JP, que lê todos os comentários no YouTube. Ele até tentou guardar tudo o que foi publicado na internet sobre a música, mas o volume foi tão grande que desistiu.
Como dupla, a carreira dos mineiros – JP é de Araxá (MG) e Mantena, de Uberlândia (MG) – começou há cinco anos, como dançarinos de grupos de axé em Porto Seguro (BA). Depois de dançarem muito na Bahia e em Minas, eles se desencantaram da profissão de coreógrafos e começaram a cantar. “Dançarino é desvalorizado nos grupos. Eu cansei de ser desprezado e parei de dançar. Aí, comecei a fazer bicos como ajudante de eletricista para juntar um dinheiro para gravar um CD com o Mantena”, lembra JP.
A estratégia deu certo: a dupla conseguiu gravar o primeiro CD, fez mil cópias e três clipes, sempre contando com ajuda de amigos. Antes de lançarem o disco, a dupla teve a ideia de publicar os clipes no YouTube. Eles já tinham esse costume e têm muitos vídeos de dança publicados. “Temos vídeos postados há cinco anos que têm pouco mais de 4 mil acessos. Aí, de repente, o ‘Street Fighter’ estoura. E nem foi a faixa escolhida para ser a música de trabalho. Apostávamos em outras”, ri Mantena.
O CD “O Som Desgovernado” ainda não foi lançado. Oito músicas do álbum, “Street Fighter” incluída, foram compostas pelo baiano Maicon Tubarão, amigo dos mineiros. Outras três são regravações. “Todas as músicas são leves, não fazemos apelação. As crianças estão curtindo muito o ‘Street Fighter’. Todas as canções também têm refrões que grudam”, afirmou Mantena, em referência ao repetitivo “Shoryuken faz o Ken / Shoryuken faz Ryu / Eu vou lhe apresentar o Guile dando alec fu”, que após a primeira audição dificilmente sai da cabeça, como é de praxe em sucessos do axé.
Quantas duplas de axé você conhece? Aposto que nenhuma. Normalmente, dupla é sertaneja. A novidade já começa por aí. “No início, ficamos meio assim, com medo, achando que o público pudesse não aceitar. Mas fomos surpreendidos”, revela JP. Até agora, segundo eles, a fama não rendeu dinheiro. “Esta parte ainda estamos esperando [risos]. Temos fé que essa música faça a nossa carreira deslanchar para valer. É bom começar assim, já com um trabalho de sucesso”, diz JP.
Por falta de dinheiro, a produção do clipe foi bem baratinha. Os quimonos usados pela dupla foram pechinchados em uma loja de bairro. “Um quimono bom custa mais de R$ 800. O vermelho, que normalmente é usado em jiu-jitsu, é mais de mil reais. Paguei R$ 60 em cada um. E um detalhe: os dois eram brancos. Eu tingi um deles de vermelho em casa. Agora, tem empresa procurando o nosso empresário para patrocinar os quimonos. Chique, né?”, diverte-se Mantena, que chegou a ser professor de capoeira em Uberlândia. Já JP praticou judô por quatro anos.
O apelido Mantena vem da época da capoeira. Por ter olhos grandes e irritadiços, que facilmente ardem e ficam vermelhos, os colegas de esportes o apelidaram com o nome de um personagem do desenho He-Man, um dos vilões, que tem grandes olhos coloridos. “Tinha mesmo que fazer sucesso com um personagem”, ironiza JP.
A dupla só fica chateada quando fala de casas noturnas e rádios de Uberlândia, onde moram, que fecharam as portas antes do sucesso do vídeo. Durante a entrevista, uma das empresas ligou no celular de Mantena querendo montar uma parceria comercial. “Para você ver. Quando gravamos a música que na época seria a de trabalho, procurei uma rádio para quem já tinha trabalhado. Eles queriam me cobrar R$ 10 mil para tocar a minha música. Lógico que eu não paguei. Se tivesse R$ 10 mil, ia investir em qualquer outra coisa. Agora, correm atrás”, reclama.
Como já tinha contrato fechado para festas de Carnaval em duas cidades, a dupla nem pôde aumentar o cachê por causa do sucesso. “Tocamos todas as noites em Centralina (MG) e durante o dia em Caldas Novas (GO). Nas duas cidades, fizeram a maior propaganda, viramos a atração principal. Também teve um convite para o camarote de uma emissora de TV em Salvador. Só dá certo se formos de helicóptero, como o Ken no jogo”, ri JP.
Na história do “Street Fighter”, dois garotos viajam o mundo para enfrentarem os maiores lutadores, bancados por um deles (Ken), que tem muito dinheiro e um helicóptero. “No jogo, eles passeiam pelo mundo. Na vida real, nossa música está passeando. Temos amigos que moram em outros países que já disseram que a música está bombando por lá. Nosso clipe foi capa de 11 sites estrangeiros. Não poderíamos estar mais felizes. Só falta agora o dinheiro igual ao do Ken para eu ser ele”, brinca JP.
*Esta matéria foi editada e faz parte da edição nº 1 da Revista Digital Overmundo.
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