De A Longa História, sentirei falta de Lollia

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joca simonetti · Vitória, ES
23/11/2007 · 146 · 5
 

Acabo de ler A Longa História.
Para quem ainda não leu, ou ouviu falar, A Longa História é o romance mais recente de Reinaldo Santos Neves (Ed. Bertrand Brasil, 616 p.).

Acabo de ler A Longa História e sentirei falta de Lollia. Não que Lollia seja a protagonista. Não é. Este lugar cabe a Grim de Grimsby, a quem cabe também a missão que orienta a aventura: copiar A Longa História, aprisionado na imaginação de seu criador, Phostumus de Broz, ele também aprisionado (embora voluntariamente) em um distante convento. Onde? Em Broz, naturalmente. E Broz fica ali na esquina de uma Europa tão medieval quanto fabulosa, criada pela mente fértil do autor.

Mas, acabo de ler A Longa História e sentirei falta de Lollia. Mais que dá Fábula sinto já falta de Lollia. Quase tanta falta quanto da luta que trava o autor contra a personagem.

Não sei dizer se A Longa História é o melhor livro de Reinaldo. Tenho um carinho especialíssimo pelo Romance Graciano, por Sueli e por Muito Soneto por Nada que tornam difícil aceitar que esta nova Fábula seja ainda melhor.

Mas não consigo lembrar de personagem deste autor mais espantoso que Lollia. Se ela roubou o romance ao autor, bem fez o escriba quando deixou-se assaltar. Mais vale uma ação de Lollia que duas
fábulas de Grim. Já que o herói é dócil, deixa-se levar pela mão do
autor daqui para lá e lhe entrega completamente seu destino, tudo nele é fábula, é ficção, é resultado dos desejos do deus autor da história. Em Lollia não. Nela encontramos ação, já não é ficção e não aceita o espaço restrito da Fábula, tomando de assalto a imaginação dos leitores como tomou a pena do escriba.

É bem verdade que o autor foi invejoso. Tentou, o quanto pode, afastar Lollia da história. A estuprou e largou pelo caminho. Bem que tentou até mesmo assassinar a personagem. E não conseguiu. Roubou-lhe a mão, talvez para furtar seus gestos e impedir-lhe a ação. Não revelo a surpresa, mas garanto que não foi suficiente: a rebeldia da personagem emprestou-lhe muitas habilidades.

Para saber mais desta história entre autor e personagem, sugiro que leia-se A Longa Histíria, divirta-se com as aventuras e preste atenção a esta heroína rebelde que desfruta do mundo criado pelo autor como se seu fosse.

Por fim, digo apenas que, deus magoado, o autor enfim expulsa a personagem da história. Mas, como o Paraíso após a expulsão de Eva, sem a personagem também a história encontrou seu fim.

PS.: se este texto parece rebuscado e pedante, é porque é assim mesmo. A longa história, com outros livros de Reinaldo, têm o espantoso poder de dar desejo de escrever. Não de escrever uma história, mas de escrever, de organizar as palavras nesta ordem e não naquela, pelo prazer de compor e recompor o texto.
Se não consigo fazê-lo com as qualidades de manuscrito pelas mãos de Lollia, a culpa é minha. Afinal, A Longa História empresta a vontade de escrever, não as qualidades de escritor.

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Ilhandarilha
 

Olá Joca. Grata surpresa encontrar um texto seu aqui. Ainda mais desse nível, e sobre um livro do Reinaldo! Gostei bastante do seu texto de apresentação. Nada pedante ou rebuscado, como vc disse. Ele é na verdade instigante e me deu uma baita vontade de correr amanhã pra uma livraria e comprá-lo.
Quanto ao Reinaldo, não conheço o suficiente de sua obra ( li mais seus poemas que seus romances), mas admiro sua postura desde a época da Revista de Cultura ou da Revista da FCAA.
Que vc continue enviando colaborações tão bacanas quanto essa. Um abraço!

Ilhandarilha · Vitória, ES 21/11/2007 20:35
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Ana Murta
 

Joca querido,
Faço das palavras da Cláudia, as minhas.
Belo texto, bom te ver aqui.
E viva Reinaldo! (o cara é foda mesmo)

Ana Murta · Vitória, ES 22/11/2007 11:16
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joca simonetti
 

Ana e Cláudia, obrigado pela força. E mergulhem mesmo no livro. Vale a pena!

joca simonetti · Vitória, ES 23/11/2007 07:58
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Andre Pessego
 

Uma Noticia boa, muito boa,
a tecnologia, os interesses cientificos tecnologicos, vêm
superando em muito, demasiadamente, a inserção de livros de ficção, de conteúdo social do mercado.
Essa incersão, embora nos limites daqui, é fato muito bom,
um abraço, Joca
andre.

Andre Pessego · São Paulo, SP 24/11/2007 07:31
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LAILTON ARAÚJO
 



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E da liberdade do autor – leiam:

http://www.overmundo.com.br/overblog/tirem-do-ar-moleques

http://www.overmundo.com.br/forum/debate-geral-o-que-e-cultura

Desculpem! Foi necessário!

Grande abraço!

Lailton Araújo

LAILTON ARAÚJO · São Paulo, SP 25/11/2007 18:24
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