Geraldo Vandré: a louca lucidez de um não adaptado

Foto de capa de um dos discos do compositor
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Samba de Uma Nova Gente · Brasília, DF
7/12/2010 · 11 · 0
 

A série de entrevistas de Geneton Moraes Neto, intituladas de Dossiê Globo News, tem trazido a público alguns depoimentos interessantes. O de Geraldo Vandré me pegou de surpresa.

Há cerca de dois anos eu passei alguns dias re-ouvindo a discografia de Geraldo Vandré e fiquei impressionado: realmente um compositor muito bom e versátil, com domínio da melodia, bom harmonizador e ótimo letrista. Muitas músicas, que tive acesso em formato digital, eu sequer conhecia.

Seu estilo de letra e de música, bem como de arranjos e estilo, contudo, é claramente de um outro Brasil musical, o da MPB anterior à mistura com o pop internacional, anterior aos anos 1960, portanto. Não se adapta mais aos ouvidos das gerações posteriores.

Ao ver a entrevista de Geraldo Vandré percebi que o próprio compositor se recusou a adentrar o mundo da cultura pop brasileira dos últimos 40 anos. Ele ficou lá atrás, na ante-sala de um Brasil que ele não quis aceitar. Lugar sofrido, não há dúvida, mas lugar privilegiado para se observar a veloz transformação cultural desse período.

Quem vai se adaptando, se moldando, se transformando ao sabor das circunstâncias, em geral perde a capacidade de ver com clareza o que havia antes e o que há depois. Os olhos se acomodam. Os sujeitos revoltados, arredios às transformações, quardam melhor o passado consigo.

Geraldo Vandré não quis ou não conseguiu (psicologicamente falando) ser nem mutante nem tropicalista. Aos olhos de quem seguiu a correnteza ele pode parecer ser meio louco, meio alienado, meio incompreensível, meio engolido pelos tempos que o atropelaram... Mas para quem quiser ver além disso, a entrevista está lá: límpida, transparente, honesta, até onde pareceu ser possível.

Faltou-lhe apenas ser mais justa ao final. Desnecessário haver um narrador concluindo que o Brasil que Vandré rejeita o considera apenas um louco solitário, vivendo em um sonhado país que só existe para si mesmo. Se a intenção foi dar voz a um auto-exilado, para que amortecer o seu discurso?

Se o Brail não tem seus próprios filósofos loucos, radicais, que tenha ao menos seus artistas que a tudo rejeitam, e que conseguem explicar razoavelmente bem por que o fazem.

Eis o link para a íntegra da entrevista: Dossiê Globo News - Geraldo Vandré

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