Uma Casa de Farinha e um Alambique montados em plena praça pública. Enquanto degusta a cachaça assiste a moagem da cana, vê a caldeira, um engenho completo. Da mesma forma, é saborear o beiju que acabou de sair do forno depois de ver a mandioca sendo descascada. Assim é em Utinga (Chapada Diamantina), onde estive neste fim de semana durante a 16ª Semana de Arte e Cultura.
Geralmente, um evento como este é feito com muito custo e parcos recursos. Em Utinga, a responsável pela empreitada durante estes dezesseis anos é a diretora de cultura, Urânia Viana, uma pessoa de grande simpatia, bem acolhedora e de muita fibra.
É comum encontrar pessoas que torcem o nariz ao se falar em cultura e tradição. Por exemplo, boa parte dos gestores públicos dos municípios tem dificuldades de saber distinguir o momento de se promover o que chamamos de cultura popular (ou regional) e quando é a hora de oferecer o axé music, pagode ou “forró eletrônico”, na melhor das hipóteses. Basta ver a programação da festa junina de alguns municípios. Nada contra Chico ou Francisco e viva a diversidade, mas é saber que a moçada que se embala no rock ou na black music vindos de outras fms (e acho isso bacana) é a mesma moçada que vai para a festa de vaquejada.
Pois bem, não só de música se faz uma programação de semana de cultura (ou feira de artes, festival, varia de lugar pra lugar). Artesanato, teatro de rua e de palco, dança, tradições folclóricas, feira livre, projetos locais, a economia, religiosidade, tudo se relaciona. Diferente dos grandes festivais, estas semanas culturais oferecem muito mais do que uma mostra ou exposição de alguma coisa. O encontro entre as pessoas para se conhecerem, tocar violão em roda, saborear as delícias da cozinha típica local, paquerar no escurinho da praça, prosear sentado no chão, vender produtos, promover o seu trabalho e trocar contatos e informações, isso tudo faz parte de um evento como este.
Voltando a Utinga, percebi que lá a dança é o que atrai os jovens para os palcos da semana de arte. Ao estilo street dance ou coreografias de passos sincronizados muitos jovens e adolescentes montam grupos, treinam muito, investem no figurino e gravam fundos personalizados para cada apresentação. Aliada à programação da Semana, aconteceu uma Cavalgada com mais de trinta vaqueiros que chegou a emocionar Wilson Aragão que contava os seus causos de cima do trio que acompanhava o cortejo. Logo depois, à noite, os vaqueiros se animaram na praça com os cantadores de chula, no Palco 2. Outro ponto alto em Utinga foi a apresentação do Grupo Matingueiros (PE) que possui influências regionais do Vale do São Francisco. O repertório varia em coco, maracatu, xote, baião, mas explicam que investem no forró para estarem mais presentes nos palcos das festas juninas. O grupo possui uma sonoridade forte, são performáticos e tem um balé com seis bailarinas em coreografias e indumentárias típicas do maracatu. No meio do show dos Matingueiros, uma grande roda de ciranda se formou na praça juntando pessoas do governo municipal, organizadores da festa, a juventude, senhores e senhoras, todos de mãos dadas.
O que certamente não falta nestas semanas culturais são os cantadores, cantores poetas, que identificam na sua música e melodia o nordeste, o sertão, o protesto e o amor. São canções fortes e sensíveis e de uma grande qualidade musical. Entre aqueles que sempre estão nas programações dessas semanas culturais, feiras de artes ou festivais da Bahia, estão: Gereba, Wilson Aragão, Dinho Oliveira, Dão Barros, Paulinho Jequié, Raimundo Sodré, Evandro Correia, Tato Lemos, Alex Macedo, Dão de Abreu, Ton Flores, Nivaldo Santana, Jorge e Lua, Bule Bule, etc.
Antes de Utinga, aconteceu o I Festival de Música de Seabra. A próxima, será a VI Semana Cultural de Pintadas, de 09 a 14 de maio, que terá como principal programação o IV Fórum Cultural Regional. Devido à escala de cidades representadas neste Fórum em Pintadas, poderá alcançar tranqüilamente o estatuto de Fórum Estadual, pois, têm atraído participantes dos diversos cantos, instituições, gestores, produtores e artistas. Este ano o IV Fórum Cultural Regional vai tratar de organização de um movimento de cultura no Estado, pautando questão cultural nos diversos espaços como os Territórios de Identidade e governos municipais, estadual e federal. Fazem parte ainda da VI Semana Cultural de Pintadas, mostras das diversas linguagens artísticas, palestras e oficinas. Pintadas fica no Semi-árido baiano, à 250km de Salvador, sendo 50km de estrada de terra.
Os eventos de cultura no interior do Estado não param por aí. Em seguida terá em Boa Vista do Tupim, São Gabriel e assim por diante.
Nos despedindo de Wilson Aragão em Utinga, ele nos diz que é um pecado a despedida, dá uma tristeza e um aperto no coração: “não devíamos nunca nos despedir, e sim, dizer até logo, até mais ver”. Eu concordo com Aragão, e por isso mesmo eu digo: “Inté mais ver”.
Oi Tony,
Gostei muito de conhecer um poucoc de Utinga.
O Brasil tem uma cultura quase imensurável, e é tão gostoso participar dessa cultura, desde dos grandes eventos, até aqueles em uma cidadezinha no interior de algum estado.
Parabéns e um grande abraço.
Dada a diversidade de manifestações culturais Brasil afora, um evento como esse seria algo para se comemorar e tirar proveito. Espero que esse seja o caso de Utinga.
Pepê Mattos · Macapá, AP 6/5/2007 14:23Para comentar é preciso estar logado no site. Fa�a primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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