O artesanato das quebradeiras de coco da Palmatuba

Ventinha
Forro para mesa
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jjLeandro · Araguaína, TO
7/10/2008 · 216 · 9
 

As mulheres quebradeiras de coco de Babaçulândia são bastante conhecidas por quem admira e gosta de artesanato não somente no Tocantins como em todo o Brasil. Elas têm uma maneira peculiar de trabalhar o coco do babaçu, transformando o que seria destinado à fabricação de óleo vegetal ou à indústria cosmética em disputados adereços para o corpo ou decoração ambiental.

A procura da linha de produtos por comerciantes de artesanato de todo o Brasil, que inclui brincos, colares, pulseiras, bolsas femininas, porta-canetas e forros para mesa, mantém as quebradeiras ocupadas diariamente confeccionando novas peças para abastecer o mercado.

Segundo Queila Moura, que já presidiu a Associação das Quebradeiras de Coco da Palmatuba (bairro da cidade) nada do que produzem encalha. “As nossas peças, por fugirem ao padrão convencional de artesanato, têm muita aceitação. Nada por aqui demora muito a vender”.

É um clima de euforia que contagia todas as integrantes da associação que viram seu trabalho valorizado pela agregação de valor com a transformação do coco pelo artesanato.

Mas essa não é uma situação antiga. Começou a partir de dezembro de 2002 quando, com o incentivo da Prefeitura e do SEBRAE, 20 quebradeiras de coco resolveram montar a associação. Queriam com isso fugir à atividade penosa de quebrar coco para extrair o óleo comestível. Esta atividade, conhecida e praticada na região de Babaçulândia e norte tocantinense onde a palmeira abunda, remonta às primeiras décadas do século XX, obrigando as mulheres coletoras e quebradeiras a uma jornada diária penosa e exaustiva. Não somente o esforço repetitivo da tarefa é exaustivo ainda hoje pela manutenção das técnicas primitivas, como o trabalho com o machado afiado e um porrete de pau para efetuar a extração da amêndoa é perigoso, já havendo casos de amputação de dedos.

Até a fundação da entidade, as mulheres em Babaçulândia coletavam o coco do babaçu na zona rural, enfrentando chuva, sol e os riscos oriundos de se embrenharem no mato. Após a coleta, processavam o duro coco, quebrando-o com um machado afiado que prendiam embaixo da perna dobrada ao assentarem-se no chão para a labuta da extração da amêndoa. O fio afiadíssimo do machado voltado para cima abria o coco pela pressão das batidas do porrete.

A associação veio mudar para melhor essa realidade. E hoje não há uma só delas que deseje voltar ao passado da extração do óleo.
A reorientação profissional deu-lhes mais dignidade, transformou o trabalho penoso e perigoso em arte e ainda por cima fez crescer-lhes a renda familiar.

Periodicamente, as quebradeiras de coco realizam exposições e feiras de sua variada produção artesanal em Araguaína e outras cidades do Tocantins, recebendo e despachando através de telefonemas e visitas pedidos de clientes espalhados por todo o Brasil.

Apreensão

Atualmente há uma grande preocupação entre as integrantes da associação: a Usina UHE Estreito vai engolir todo o bairro Palmatuba, que será coberto pelas águas do lago da hidrelétrica de 555 km². Hoje a concentração geográfica é fundamental para o desenvolvimento do trabalho. Como as indenizações foram negociadas separadamente, elas poderão vir a morar distantes umas das outras, dificultando a manutenção da associação e do trabalho artesanal. Até o mês de dezembro todas elas devem mudar-se. E com as novas condições de vida a associação e todo o belíssimo trabalho desenvolvido correm risco.

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Helena Aragão
 

Oi JJ. Ia lendo teu texto e pensando como esses trabalhos artesanais, que muitas vezes são um tanto individuais, ganham com esse formato de associação e cooperativa. As peças são lindas! Mas acabei a leitura preocupada com a notícia que você dá no final. Que situação... Depois de tanta preparação, de ajuda do Sebrae e tudo mais, é uma pena que elas provavelmente tenham que voltar à estaca zero, começar tudo de novo... Tomara que encontrem uma solução.

Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 4/10/2008 09:57
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jjLeandro
 

Helena, de fato há uma grande preocupação entre as associadas sobre a manutenção do trabalho após a inundação da área. As famílias não deverão habitar local próximo após a desocupação, o que dificultará o trabalho de todas elas.
Por mais que o Consórcio da usina tenha desenvolvido trabalho social com as quebradeiras e a comunidade em geral, não viabilizará a reunião das associadas para a continuidade do trabalho. Cada integrante, após receber sua indenização, comprará nova propriedade em local distinto, que poderá ser distante, dificultando o trabalho. A arte corre perigo.
abcs e obrigado pela participaçao.

jjLeandro · Araguaína, TO 4/10/2008 13:26
2 pessoas acharam �til · sua opini�o: subir
Ilhandarilha
 

A inundação da área não atingirá também as plantações de babaçu? Cara, isso não é muito divulgado, mas de 10 anos pra cá foram tantas as comunidades dissolvidas pelas hidroelétricas!
Gostaria muito de saber o que foi feito dessas famílias que tiveram que sair de suas terras, vilas e cidades por conta disso.

Sobre o artesanato, tenho um colar de babaçu e nem sabia o que era. Acho muito bonita essa forma dada pelo corte do coco. E a bolsa está tão linda!

Ilhandarilha · Vitória, ES 7/10/2008 10:30
1 pessoa achou �til · sua opini�o: subir
jjLeandro
 

Ilha, muitas vezes o progresso custa caro, e como. Veja bem: 555 km² formarão o lago da hidrelétrica do Estreito, sendo que cerca de 100 km² corresponde ao canal do rio, já existente portanto.

Mas a outra área, conforme é a conversa que a gente ouve, ou seja, cerca de 450 km² serão completamente desmatados antes de o lago encher. E por que isso? Porque a experiência do lago da hidrelétrica de Lajeado, aqui mesmo no Tocantins, próximo a Palmas, onde não houve o desmatamento, anos após a madeira putrefata causava muita acidez na água e mortandade de peixes. Além disso, as grandes toras de madeira morta que depois caíam causavam estragos nas turbinas da usina quando chegavam até lá.

Corresponde dizer que a madeira que não tem utilidade para construção ou movelaria será desmanchada em carvão principalmente para siderúrgicas.
Temo muito pelo nosso ar aqui próximo, que pode empestar de fumaça.
O pessoal que mora na área da Palmatuba e faz o artesanato, com a mudança, com certeza não será mais vizinho e a associação e o trabalho correm risco.

abcs

jjLeandro · Araguaína, TO 7/10/2008 19:33
1 pessoa achou �til · sua opini�o: subir
Andre Pessego
 

Meu Jovem Reportér,
Legal tem de tudo neste teu trabalho, até saudades.
abraço
andre

Andre Pessego · São Paulo, SP 8/10/2008 07:09
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FILIPE MAMEDE
 

Já não bastava a vida dura dessas mulheres.. parece que sempre tem alguem pra atrapalhar, impressionante!

FILIPE MAMEDE · Natal, RN 8/10/2008 16:00
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jjLeandro
 

É verdade, Filipe. Há seis anos que as coisas iam bem para elas. Parece que agora vai virar de ponta-cabeça. Lamentável. abcs

jjLeandro · Araguaína, TO 8/10/2008 19:27
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Cintia Thome
 

Lamentável essa separação. Um trabalho tão bonito, de origem, de garra e necessidade , como se diz, vai pelas águas...Belo texto JJ.

Cintia Thome · São Paulo, SP 8/10/2008 20:17
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letimil
 

Lembrei de uma música de um compositor que adoro, Roque Ferreira:
"Quebradeira de coco
Ê babaçue yá
A dor é um coco ruim de quebrar
A dor é um coco ruim de quebrar"

letimil · Rio de Janeiro, RJ 9/10/2008 11:37
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