O paradoxo do blockbuster digital

Desenho
Filme de Christian Caselli atinge mais de 160 mil espectadores no Youtube
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Bernardo Carvalho · Rio de Janeiro, RJ
3/8/2007 · 188 · 7
 

Recentemente foi lançado em DVD “Quarto 666”, média-metragem dirigido por Win Wenders, por ocasião do Festival de Cannes de 82. Wenders convida alguns diretores para falar a respeito de temas como o “futuro do cinema”, “o cinema e a tevê”, entre outros. Spielberg faz um questionamento de ordem industrial, dissecando a ganância crescente das grandes produtoras e requerendo mais liberdade artística; Herzog despreza a questão, e demarca uma divisão radical entre cinema e tevê; um cineasta filipino afirma que, para ele, as perguntas de Wenders são absurdas, pois “perguntar pelo futuro do cinema nas Filipinas é perguntar pelo futuro das Filipinas”…

Entretanto, as previsões mais otimistas não chegaram a cogitar a seguinte situação: um filme de curta-metragem, realizado sem gastos, atinge a surpreendente marca de 160 mil espectadores em 3 meses. Após o estrondoso sucesso do divertido “Tapa na Pantera”, “O paradoxo da espera do ônibus”, desanimação escrita e dirigida por Christian Caselli, é mais uma micro-produção a bater recordes de público no Youtube. Junto aos camelôs nigerianos que produzem e vendem seus próprio filmes, à proliferação de salas e modos de exibição alternativas, ao download irrefreado de filmes, entre outros fenômenos, o blockbuster digital indica um novo ciclo de reviravoltas na produção e difusão cinematográfica.

Em conversa pelo MSN, fizemos ao diretor Christian Caselli algumas questões parecidas com aquelas que Wenders propôs aos diretores em 82. Christian, trabalha, junto com o empresário Guilherme Whitaker, no portal/produtora Curtaocurta, que além de promover a já tradicional Mostra do Filme Livre, no CCBB/RJ, tem implementado formas inteligentes de produzir e distribuir curta-metragens pelo Brasil. No momento, Christian finaliza sua vigésima sexta “coisa audiovisual” (expressão alternativa à palavra "filme", que ele afirma não saber mais o que é…): “A equação do tempo x dinheiro”, continuação do “Paradoxo”, que também está sendo produzida sem dinheiro algum.

A que fatos e fenômenos, mundiais e nacionais, você credita o sucesso do “Paradoxo”? Seu filme pode ser considerado um blockbuster digital?
Bom, eu gostaria que você entendesse que é arriscado eu, sendo o autor da parada, afirmar uma coisa destas. Pode parecer presunçoso. Acho também que não é o caso - ainda pelo menos - de comparar com o “Tapa na Pantera”. Se tiver o mesmo sucesso no futuro, não se pode ainda prever, embora eu torça pra isso…

No entanto, noto que não existe uma fórmula certa para se agradar ao público crescente da internet. E é muito interessante perceber que são dois filmes nada óbvios falando de coisas, no mínimo, peculiares. Afinal, o “Tapa” não é estrelado por uma mulher gostosa, mas sim por uma atriz brilhante (e desconhecida!) falando de maconha. E o meu é uma "desanimação", ou seja, um desenho que não tem movimento nenhum, em que nada acontece… um acontecimento banal, nada a ver com Hollywood. Mas é bacana ver como as pessoas se identificam com tais coisas simples e diretas. Acho que a grande revolução do Youtube é dar oportunidade a quem quer que seja de se expressar e estamos colhendo frutos pouco óbvios.

Quais frutos pouco óbvios você enumeraria?
Acho mais fácil falar do que é considerado óbvio ou o que era óbvio até então, que é o padrão “Global”, Hollywood essas coisas… Na verdade, o que eu chamo de pouco óbvio deriva de uma percepção do que nos é empurrado na mídia. Agora, é imprevisível se um filme será um sucesso. Nunca esperaria isso do meu…

Quando você percebe que as pessoas querem se ver na tela com vídeos "caseiros" isso nos leva de volta lá pros tempos do Neo-Realismo (e movimentos afins), onde os autores procuravam retratar a vida cotidiana. Só que havia um elemento ideológico intelectualizado que truncava um pouco o diálogo. Creio que no Youtube não tem esse elemento e a comunicação flui melhor.

Durante muitos anos acreditou-se que o cinema tinha um forte apelo ideológico, violentando a cultura nacional... E você agora, me diz que as pessoas gostam de se ver nos videos caseiros, e gostam de temas cotidianos, trabalhados com simplicidade... O que mudou? O espectador? O cinema?
O que eu acho é que esta realidade simplemente não é tão imposta assim. Isso não é tão maquiavélico. Uma coisa vai sempre interferir na outra. Por exemplo: se a novela da Globo não agrada o povão, ela não dá certo. Não é a toa que existem várias pesquisas até pra mudar o rumo de uma novela. Talvez o que esteja acontecendo agora é um equilíbrio melhor. Mas veja bem: não estou querendo dizer que o Youtube é formado por uma série de santos que querem o bem da humanidade. Pode até ser que eles queiram, mas estão interessados em tutu também. Creio que o acesso maior que muitas pessoas estão tendo a meios de expressão, sobretudo o digital, está mudando nitidamente muitas coisas. Ou seja, não podemos marcar touca e nos deslumbrarmos com a tecnologia, mas temos que usá-la em nosso favor.

E também tem o seguinte: o próprio mundo mudou junto com o cinema. O tal "fim das utopias" pode ter sido uma dádiva e muitos dos "revolucionários antigos" parecem não querer ver isto. Preferem o modelo romântico e dualista (comunismo x captalismo) de antes. Agora, eu acho que fudeu… As coisas estão vindo de forma vertiginosa, o que também é muito interessante. O melhor que temos a fazer é nos certificar que estamos todos meio perdidos e aproveitar esse momento único para nos expressarmos e marcamos uma diferença. A hora é essa! (risadas)

Quanto custou o filme?
Não dá pra dizer em termos concretos, porque não se contabilizou coisa alguma. Pra não dizer que não foi "nada", temos que contar com alguns termos. Comigo: minhas horas gastas na edição (contar energia elétrica) e na tinta e no papel que imprimi pro Chico (Chico Serra, narrador) ler. Com o Renner (Gabriel Renner, desenhista): o nanquim que ele usou e na energia elétrica que ele escaneou e mandou pra mim por internet. Com o Chico: ... hmmm, acho que nada, a não ser a passagem de ônibus, mas ele iria pra perto da produtora onde estamos de qualquer maneira... Ou seja... sei lá! Menos de 10 reais (detalhe: não usei nem sequer uma fita mini-dv). E a minha força de trabalho não conta, pois fiz por lazer. Aliás, confundo o tempo todo minha atividade autoral com o meu lazer, o que eu considero quase uma bênção.

Indústria ou baixo orçamento: um dos dilemas mais discutidos do cinema brasileiro. Esta não é sua primeira produção sem orçamento. Você pensa que este é um caminho próprio, ou tem alguma perspectiva política sobre esta modalidade de produção?
Acho mais honesto até pro próprio brasil a coisa do baixo (baixíssimo de preferência) orçamento. Particularmente, eu acho uma afronta o governo deixar de pegar um milhão de impostos pra fazer um longa. A produção de baixo orçamento não só pode gerar uma expressão mais autêntica de uma cultura como pode ter, inclusive, um fluxo de capital espontâneo e singular.

Você citou o caso da Nigéria, mas tem também o caso da banda Calipso, um fenômeno extremamente natural, embora eu não goste. Tem várias maneiras nunca antes pensadas que ainda podem acontecer. Está tudo em potencial por aí. É só incentivar isto. Eu não sou a favor da destruição de um cinema mais "certinho" feito no Brasil. Mas temos que ficar de olho se este modelo está ficando demodê.

E mudar um pouco a maneira de se realizar grandes produções. Por exemplo: o filme fica pronto sendo totalmente pago. Tudo bem, mas tem que fazer com que a grana volte pro governo, já que o cachê de todos já foi pago. Um filme tem que ser visto como um investimento para que nenhuma parte tenha prejuizo. Não é indústria que eles querem? E não é assim que funciona, ou seja, quem dá a grana quer retorno? Ou querem só mamar na teta?

Filmes como “Cão sem dono”, “Cidade baixa” e “Baixio das bestas” indicam que o baixo orçamento está vencendo a batalha? O que você pensa desses filmes e do cinema brasileiro atual como um todo? Penso também que grandes cineastas, ligeiramente esquecidos, se beneficiaram do barateamento dos equipamentos e da producão cinematográfica e retornaram com força total, como o Tonacci e o Edgard Navarro. Você acha que todo esse contexto pode auxiliar ou atrapalhar os diretores mais antigos?
"Cão sem dono”, “Cidade baixa” e “Baixio das bestas" SÃO DE BAIXO ORÇAMENTO??? AHAHAHA, não me faça rir. Cara, até devem ter sido baratos, mas nos moldes ainda da película. O problema é que a projeção de vídeo ainda não está no top da coisa, mas está se encaminhando. Vide a Rain (empresa de exibição digital), que ainda é cara, que brevemente terá vários concorrentes.

Eu acho que o Navarro e o Tonacci não vieram com força total, não em termos de reconhecimento, embora tenham produzido coisas ótimas. Mas acho que eles fazem parte do pensamento da antiga, embora o Tonacci tenha filmado em vídeo grande parte do filme. Não estou dizendo que isso é ruim, mas creio que os parâmetros estão indo por outro caminho…

Esse contexto pode auxiliar muitos diretores, tanto os recentes quanto os mais antigos. Não teria como não auxiliar. E não só diretores não. Quer ver um caso mais exemplar e complicado? Os músicos. Ninguém precisa mais de gravadora, que era uma paquiderme branco vestido de sereia dizendo: "vem cá gostoso", mas que, no fim das contas, te comia. A coisa está toda mudada e precisamos saber a melhor forma de viver de arte. Mas pelo menos não estamos dependendo dos tubarões pra produzirmos nossas coisas.

Mas será que essa é uma realidade ainda sem mercado? Quero dizer, você afirma que confunde trabalho e lazer, mas será que esta nova realidade trará um mercado auto-sustentável, ou o cinema continuará sendo a maior diversão, desta vez como prática?
Sim, é claro que essa é ainda uma realidade sem mercado. Eu não vivo dos filmes que eu fiz, mas de coisas muitas vezes pentelhas que sou obrigado a fazer. Se eu tenho algum tipo de sorte, é o fato de estar pelo menos trabalhando no audiovisual e não precisar ter emprego em McDonalds ou em loja de roupa. O que eu acredito é que se pode incentivar um tipo peculiar de mercado - não me pergunte qual, pois não se eu soubesse estaria rico - que pode ser auto-sustentável. Taí a Nigéria e o "techno Belém" (sic) que não me deixam mentir…

Quanto a mim, de vez em quando me inscrevo nos editais do Minc e da Petrobrás (nunca ganhei nada), mais por experiência. Realmente quero saber como as coisas acontecem - e, claro, pra ganhar alguma grana, pois às vezes não tenho dinheiro nem pra um ônibus. Porém pretendo investir o dinheiro e a experiência ganha pra continuar a linha que venho seguindo, que me parece muito mais provocadora e fecunda. Cada vez mais tenho restrições ao chamado "Cinema", ó esse cinema com "C" maiúsculo, de que quero me distanciar. Mesmo filmes ditos mais alternativos como os que você citou, estão muito próximos de um cinema narrativo tradicional, o que cada vez menos me interessa.

Um bom exemplo de uma outra linha de cinema possível e acessível, mais ainda do que o “Paradoxo” (que é interessante em termos de roteiro, pois nada acontece), é o meu segundo filme mais visto, o “Cinco poemas concretos”. Um filme totalmente abstrato, e que teve uma aceitação muito boa, pra minha surpresa total. Resumindo: sim, de uma forma ou de outra, quero entrar na pseudo-indústria brasileira, mas com o intuito de sair o mais rápido possível. Ou criar novos caminhos (estou falando em termos utópicos). Podendo ajudar mó galera a pertubar o status quo, vou ficar feliz pra caralho!!!

O cinema sempre foi considerado “arte de massas”, embora tenha sido produzido por grandes indústrias, e mesmo em países como o nosso, é uma arte daqueles que detém o capital. Portanto, ainda que destinada ao consumo geral, espelha uma perspectiva de classe. Entretanto, algo está mudando: os filmes produzidos em oficinas de vídeo realizadas em favelas do Rio, o mercado nigeriano, o download desenfreado de filmes industriais, e agora a exibição digital… você acha que o cinema finalmente se tornou “popular”? O capitalismo está mordendo o rabo?
SIM!!!! Eu acho muito isso. Mordendo o próprio rabo. O capitalismo tem mecanismos muito inteligentes (temos que admitir isto), mas entra em contradição o tempo todo. Ou seja, os consumidores de CD preferem hoje fazer downloads a comprar discos, o que gerou um certo colapso da indústria fonográfica… Mas acho que no cinema estamos ainda engatinhando; talvez, no máximo, aprendendo a andar nas esferas da independência. Mas pelo menos não estamos mais nos colos dos nossos patriarcas, que nos levavam pra onde eles queriam. Espertos do jeito que eles são, pode até ser que mudem o curso a favor deles. Mas várias coisas já são incontroláveis, como, por exemplo, os downloads.

Mas é fundamental pensar na exibição digital. E talvez, em conseqüência disso, vários filmes baratos tenha a sua vez. Exemplo concreto: “Tapa na pantera”. Fui testemunha ocular de uma situação sensacional. Viajei para muitos festivais no Brasil e afirmo taxativamente: as sessões com o “Tapa” eram as mais cheias!! Ou seja, as pessoas ficam com vontade de ver um filme do Youtube em tela grande, mesmo tendo assistido milhares de vezes. Quem sabe esse não é um caminho?

Diante desta nova realidade de produção e difusão, podemos ainda falar de um “futuro do cinema”? Podemos falar de uma linguagem especificamente cinematográfica? Ou, como você acaba de dizer: tudo se misturará? Será que a técnica cut and paste trará uma confluência de estilos e objetivos artísticos absolutamente novos em relação aos que vigoraram até agora?
Eu acho que infelizmente as pessoas ainda estão muito moldadas por modelos antigos de cinema. O problema é que a tal "sétima arte" virou uma coisa careta e dogmática, anunciada pelos críticos hegemônicos. Ou seja, eles que definem "o que é" e “o que não é” cinema, como se fossem autoridades. Ora, já vi videoclipes melhores do que muitos longas! Até quando se desconstrói a linguagem clássica, e mesmo quando se elogia essa desconstrução, percebe-se uma citação ao modelo clássico. Isto acontece com as novas gerações, que se preocupam com roteiro, atores, etc, que, tudo bem, são importantes, mas existem outros caminhos. Por exemplo: muitas coisas que eu fiz não usaram nem câmera nem atores. E estão lá, existem!

Eu acho que a grande dica, que eu modestamente ponho nesta entrevista, é que as pessoas pensem mais em áudio + visual do que, ó, Cinema… isso é uma libertação! Ou seja, você não precisa contar uma história, necessariamente... tem vários outros modelos a serem usados, e ainda mais baratos, originais e criativos. É só botar a criatividade pra funcionar e ver o quanto o somatório destes dois elementos, o auditivo e o visual, pode ser explosivos e mandar bala. Opa, mandar bala não. Isso é muito Hollywood… (risadas)

Você considera então que o Cinema, com C maiúsculo se transfigurou em uma modalidade de algo mais amplo, o audiovisual? Quer dizer, o próprio contexto do qual Win Wenders parte para entrevistar os diretores em "Quarto 666" já não vigora mais?

O cinema virou um subdivisão pífia do audiovisual. Mas teve uma força tamanha que produziu uma antipatia generalizada a qualquer outra coisa que não seja contar historinha. E fez isso através do marketing. Hoje, tanto o cinemão quanto o dito "cinema de arte" são tributários do cinema narrativo clássico… Eu não vi o “Quarto 666” então não posso dizer com precisão, mas a atitude do Win Wenders é sensacional até hoje. Já o que se diz e o resultado do filme, não sei falar… Tavez o ideal - e mais interessante e bastante realizável hoje - seria pôr os diretores falando ao vivo em várias instalações pelo mundo. Mas já tá bom o que ele fez…

Mas veja: Wenders propõe questões muito abrangentes aos diretores... ele os questiona em termos de "futuro do cinema"... há, portanto, ainda, uma visão do Cinema com C maiúsculo...
Sim, eu acho que sim... Mas entendo, pois nos anos 80 não se imaginava o que está acontecendo agora. E muito menos que o muro de Berlim iria cair… As utopias e esperanças eram outras. Mas deve ter questões e respostas pertinentes e atuais. Por exemplo: gostei do que o diretor filipino falou. Algo parecido com o que eu disse aqui, da afronta de se dar um milhão pra um filme enquanto tem tanta merda acontecendo…

Godard afirma que o cinema, em sendo uma arte majoritariamente projetada atrás da câmera, é portanto a arte de mostrar o invisível... Os filmes são pensados e projetados por trás da câmera, mas no fim das contas, se mostra algo em frente à câmera…
O grande barato do audiovisual é talvez a concretização de um pensamento, muito mais que nas outras artes. Buñuel achava que o cinema era a arte que mais tinha a ver com o inconsciente. Mas seguindo por esta linha, aprofunda-se o que eu disse: se é a arte do pensamento, então ela tem muito mais potencialidade do que a forma que se tem usado até hoje. Até porque nós não pensamos somente em histórias certo? E viva Norman McLaren!

Certamente este assunto evoca Norman MacLaren… Mas podemos lembrar também de outro MacLaren, o Malcom, que era, segundo o livro Mate-me por favor, um tremendo pilantra, né? Como você acha que ficam os aspectos jurídicos desta questão toda? Porque o digital permite uma manipulação da obra alheia nunca experimentada antes...
Na verdade, acho ele um tremendo irônico e os punks não sacaram isso. Mas vamos mudar o assunto…

... na verdade, não mudamos de assunto. Estamos ainda falando do "do it yourself", desta máxima punk que na verdade diz respeito a todos nós hoje em dia...
Sim, estamos entre a cruz e a espada em vários sentidos: tanto mercadológicos quanto jurídicos. A questão da propriedade intelectual nunca foi tão debatida e, não à toa, por agora… Tudo está se misturando e você vê o quanto as coisas são complexas. O direito autoral, que era uma coisa tão óbvia e irretocável, está sendo questionada pelo creative commons e o copyleft, o que é MARAVILHOSO! Afinal, qual é o valor de uma obra de arte? Sempre se questionou isto, mas agora a coisa tá se problematizando ao máximo.

Na verdade, arte e capitalismo nunca se entenderam direito, o que é ponto pra arte… Então, talvez a grande contradição do fazer artístico seja o fato de se precisar ganhar dinheiro utilizando a expressão de um autor (o que é, no fundo no fundo, a grande característica da arte). Então, quando se define que "só é obrigado a pedir autorização de algo que eu fiz se estiver ganhando algum dinheiro", isto é uma coisa mais que interessante. Se não for com fins lucrativos, pô, deixa a galera usar tudo meu a rodo; só não pode distorcer o que eu disse, isto é, usar pra algo racista, nazista; o resto pode. E o que foi feito antes, pertence ao mundo. Principalmente se não há herdeiros, coisa e tal (que muitas vezes são muito pentelhos).

Uma coisa que ninguém discute: A TELEVISÃO ABERTA É UMA CONCESSÃO PÚBLICA!!! Ou seja, deduzo então que posso usar QUALQUER IMAGEM TRANSTRANSMITIDA PELA REDE GLOBO. Por que não poderia? As marcas de comerciais invadem sua vida sem pedir licença. Quando você usa uma marca ao seu favor, eles te processam? Não, temos que usar tudo isto, até para questionar essa opressão toda.

Quando eu disse que não acredito tanto nesse papo de “intervenção cultural”, que tudo se mistura muito, é claro que tenho ressalvas. Por exemplo, por que nós nunca vimos um filme nigeriano? Ou quase não se tem acesso a cultura argentina? É claro que existe uma imposição. Mas creio que o que nos enviam por goela abaixo sempre acaba sendo regurgitado de uma forma ou de outra.

Pra finalizar, que outros fenômenos "digitais" você indicaria para as pessoas que estão lendo essa entrevista?
Olha, acabei de pensar no Tom Zé com o disco "Jogo de armar", que disponibilizou um CD com extras pras pessoas fazerem o que quiser com o que foi gravado. Aliás, a Trama é uma das poucas gravadoras que pensam num sentido diferenciado, como o disco do Cansei de ser Sexy que eles davam de graça um CD virgem pra vc copiar pra quem quisesse. Mas vamos parar de elogiar gravadoras… hmmm… deixô ver…

Parece que a trama recusou o último disco do Tom Zé por excesso de hermetismo, ou algo parecido...

Bom, creio que o próprio Youtube está quase ficando defasado, pois outros sites estão nascendo e a tendência é que possamos ver os vídeos disponíveis em uma resolução maior. Mas por enquanto, acho que o barato é usar softwares livres e ficarmos antenados tanto na discussão tecnológica quanto na jurídica. É uma coisa que eu mesmo tenho que correr mais atrás, pois acredito que seja “O” futuro das artes em geral. Acho esse processo muito mais instigante do que ficar correndo atrás desse Cinema, com "C" maiúsculo…

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Henrique Araújo - Grupo TR.E.M.A
 

Uma coisa: puta entrevista!

Henrique Araújo - Grupo TR.E.M.A · Fortaleza, CE 31/7/2007 11:27
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Thiago Camelo
 

Ótimo mesmo Bernardo. Uma porção de questões sobre o presente/futuro do cinema foram tratadas aqui. O Eduardo Valente, provável parceiro teu no livro da Contracampo, falou nessa entrevista aqui que acha que a internet ainda não está sendo usada como deveria, com uma linguagem pensada pra exibição na internet, que as "coisas" são feitas e, por acaso, caem na rede. Que o futuro será quando se começar a criar, em massa, produtos já pensandos e com "a cara" (que cara?) da internet - o que corrobora com o que o Ronaldo Lemos disse neste texto aqui e, também, com o que o próprio Christian fala o tempo todo. Parabéns, Bernardo. Um abraço!

Thiago Camelo · Rio de Janeiro, RJ 31/7/2007 16:21
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Bernardo Carvalho
 

opa thiago! gostei muito da entrevista do nosso valentão, embora discorde dele em algumas abordagens do cinema contemporâneo. entretanto, nesse aspecto do filme internáutico, tô de pleno acordo: em sendo incertas as formas de criação, produção e distribuição, abre-se um universo absolutamente desconhecido diante do realizador...

Bernardo Carvalho · Rio de Janeiro, RJ 31/7/2007 21:03
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Felipe Obrer
 

Lembro de ter visto no portacurtas o filme Autoconhecimento, também do Cristian Caselli, há alguns anos (o curta-monólogo é de 2004).

Felipe Obrer · Florianópolis, SC 2/8/2007 15:17
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Bernardo Carvalho
 

christian fez filmes muito interessantes. um dos que mais gosto é um díptico formado por "este documentário" e "este este documentário". ambos estão proibidos justamente por conta desta lei de direitos autorais e direitos de imagem extremamente descompassada com o momento tecnológico e cultural por que passamos...

Bernardo Carvalho · Rio de Janeiro, RJ 2/8/2007 15:50
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Dauphin de Itaguaí
 

Legal a entrevista. Está cada vez mais dificil mesmo falar em cinema com C maiúsculo com You Tube, Nigéria e novas formas de filmar, produzir e distribuir rolando por aí. Se a contemporaneidade está servindo para alguma coisa, ela está tornando desafada tentativas de formar uma teoria geral sobre qualquer coisa no campo da cultura e da informação. O futuro dos blockbusters digitais dirão muito sobre como entramos em contato e prestigiamos a produção cultural na rede.

Dauphin de Itaguaí · Itaguaí, RJ 3/8/2007 14:06
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Bernardo Carvalho
 

escreveram sobre a mostra do filme livre aqui no overmundo. vale a pena conferir...

Bernardo Carvalho · Rio de Janeiro, RJ 4/8/2007 17:59
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