Em entrevista concedida ao repórter Juracy dos Anjos, o professor e coordenador do núcleo de Pesquisa e Extensão da Universidade Salvador (Unifacs), William Giozza fala da importância da produção do conhecimento para a formação dos estudantes e para o desenvolvimento do Brasil. Além disso, ele ressalta que os investimentos governamentais na área de pesquisa científica, principalmente para as instituições de ensino privadas, não são suficientes. “Nos países desenvolvidos como, por exemplo, os Estados Unidos, esses investimentos são realizados pelo Estado em parceria com as universidades (públicas ou privadas, indistintamente) e empresas”, destaca. No Brasil, de acordo com o coordenador, ainda existem restrições para o financiamento da pesquisa em IES particulares. Confira a entrevista:
Juracy dos Anjos - Qual a importância da produção do conhecimento (da pesquisa científica) para a formação do estudante e do país? William Giozza - O estudante que participa do processo de produção do conhecimento (isto é, da pesquisa científica) enriquece sua formação acadêmica, seja pelo exercício da metodologia de investigação científica seja pelos novos conhecimentos adquiridos. Além disso, a iniciação científica é um processo dinâmico que permite ampliar a visão pessoal e profissional do estudante. Já para o país, é fundamental desenvolver sua indústria do conhecimento. Participar ativamente da produção de conhecimento e do desenvolvimento tecnológico é hoje uma necessidade para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.
Juracy dos Anjos - De acordo com especialistas, existe atualmente uma crescente reprodução do conhecimento (e pouca produção) pelas instituições privadas. Qual(is) a(s) interferência(s) que esse tipo de postura pode trazer para a formação do estudante?William Giozza - O ganho para os estudantes de instituições que desenvolvem pesquisa é bastante claro. Além da oportunidade de participar do processo de produção de conhecimento, eles podem "beber" diretamente na fonte do saber.
Juracy dos Anjos - Historicamente as universidades públicas se encarregaram, e se encarregam até hoje, da produção do conhecimento no Brasil, sendo que atualmente existem mais instituições privadas do que públicas. Como o senhor avalia esta situação?William Giozza - Poucas Instituições Ensino Superior particulares usufruiram dos grandes investimentos públicos em recursos humanos e em laboratórios realizados nos anos 70 no Brasil. Mas algumas delas (e.g., PUCs) são reconhecidas hoje como centros de excelência de pesquisa em áreas específicas do conhecimento e seus alunos gozam dessa reputação. Mais recentemente, outras IES particulares começaram a investir na formação de grupos de pesquisa e na oferta de programas de mestrado e doutorado. É o caso, por exemplo, da Universidade Salvador (Unifacs), que na Bahia é pioneira e referência em áreas do conhecimento como a de informática e a de energia. Hoje em dia o crescimento relativo do setor das IES particulares em termos de cursos de pós-graduação (mestrados e doutorados) já supera ao das públicas.
Juracy dos Anjos - Quais são os principais fatores que dificultam o investimento na área de pesquisa científica nas IES privadas?William Giozza - A pesquisa científica exige muitas vezes investimentos massivos em infra-estrutura laboratorial e em recursos humanos qualificados. Nos países desenvolvidos como, por exemplo, os Estados Unidos, esses investimentos são realizados pelo Estado em parceria com as universidades (públicas ou privadas, indistintamente) e empresas. No Brasil ainda existem restrições para o financiamento da pesquisa em IES particulares. Por exemplo, existem editais públicos do MCT/CNPq que discriminam isso claramente. No nosso entendimento os resultados da pesquisa e os pesquisadores formados nas IES particulares contribuem para o desenvolvimento do país da mesma maneira do que os formados pelas IES públicas. Nesse sentido, acreditamos que os pesquisadores e os alunos envolvidos com atividades de pesquisa nas IES particulares deveriam poder concorrer pelo mérito aos editais de fomento à pesquisa com recursos públicos. Felizmente, aqui na Bahia, os editais da FAPESB, nossa agência de fomento em C,T&I concentram-se na avaliação da qualidade da pesquisa a ser financiada, não discriminando a personalidade jurídica da IES.
Juracy dos Anjos - A partir de que período (semestre) os estudantes podem começar a fazer pesquisa?William Giozza - O estudante pode começar a pesquisar desde o seu ingresso na instituição. Para isso, precisa identificar um tema de interesse e um orientador. Em geral, os dois primeiros semestres na instituição permitirão ao aluno conhecer melhor as áreas de pesquisa e os professores/pesquisadores disponíveis para orientação. Em algumas áreas do conhecimento, pode ainda ser necessário atender primeiro a alguns pré-requisitos antes de poder se engajar num projeto de pesquisa, como, por exemplo, ter cursado previamente uma ou outra disciplina com práticas laboratoriais.
Juracy dos Anjos - Entrar ou incentivar a formação de grupos de estudos é uma boa iniciativa para os estudantes e para a instituição?William Giozza – Sim. A pesquisa moderna é feita em equipe e cada vez mais com o viés multidisciplinar, de modo que o incentivo à prática de estudos em grupos multidisciplinares tende a ser muito proveitosa.
Juracy dos Anjos - Produzir conhecimento (pesquisa científica) é essencial para uma faculdade se transformar em universidade. Em Salvador, poucas IES privadas conseguiram tal fato. Como o senhor analisa essa situação e qual a importância de uma faculdade se reconhecida como universidade?William Giozza - Para ser reconhecida como universidade, uma instituição de ensino superior deve desenvolver atividades de pesquisa e de formação em nível de mestrado e doutorado. Isso exige investimentos em termos de recursos humanos qualificados (e.g., doutores) e de infra-estrutura que não são custeados pelas mensalidades dos alunos. Portanto, além do aporte inicial de recursos próprios, é fundamental que a instituição invista em parcerias com empresas e organizações interessadas nos mestres e doutores que ela formará, bem como nos resultados de suas pesquisas. Além disso, conforme dissemos anteriormente, continua sendo importante para a sustentabilidade das atividades de pesquisa no Brasil, o apoio das agências de fomento governamentais em nível local, regional e nacional. Como universidade, a Unifacs pode contribuir para o desenvolvimento crescente da produção científica e tecnológica do Brasil e da nossa região, um requisito básico para a inserção na moderna economia mundial de base tecnológica, que constitui a infra-estrutura da Sociedade do Conhecimento. Por outro lado, a Unifacs entende também que as sua atividades de pesquisa e de Iniciação Científica proporcionam um horizonte mais amplo para a formação individual dos seus alunos ao agregar valores associados ao método científico vivenciado, tais como: capacidade de organização, espírito crítico e criatividade, fatores estes que podem ser diferenciais competitivos e bastante benéficos para qualquer profissão.
Ola, William, sugiro um espaco separando a pergunta da resposta. E links para as instituicoes citadas. Caso nao saiba como colocar o link, use a tag:
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