Não é mistério que o Ministério da Cultura está com sérios problemas. E o principal deles é a sua comunicação com a sociedade. Desde o primeiro momento da posse da Ministra Ana de Hollanda que a síntese da questão está na ausência de uma gestão de comunicação e de compreensão de estratégia de marca.
O primeiro sinal desse embroglio comunicacional foi a incompreensão do que significava a retirada do selo Creative Commons do site do Ministério. Parece não ter ficado uma lição apendida que, para todas as pessoas envolvidas com cultura digital, o ato teve a mesma carga simbólica do assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, cujo resultado foi deflagração de uma guerra civil cultural que está em curso até hoje, já tendo passado pelas polêmicas de Emir Sader, Maria Betânia, Europália e ECAD. Muitos atribuem a situação a uma questão partidária, golpista, sabotadora. Quem sou eu para saber que mal se esconde nos corações dos homens. Mas eu faço idéia de qual pode ser um caminho para mudar a pauta.
A pacificação somente pode acontecer quando a gente souber qual é o plano do MinC, que até agora não está claro. Qual o conceito sintético que vai alinhar todas as ações? Quais são os valores que guiam as decisões? Sem essa base, essa visão de mundo a ser compartilhada, qualquer comunicação tem grande possibilidade de bater na trave.
Em evento recente no Palácio Capanema, o MinC "convocou" os profissionais de artes visuais para conversar. O evento foi um exemplo da falta de planejamento de comunicação e de formação de uma atitute, uma agenda e uma proposta positiva.
A ministra chegou ao evento com quase uma hora de atraso, como se fosse a coisa mais normal do mundo. O que é um erro grave de comunicação, num momento de tensão. Mas isso ainda seria facilmente superado se houvesse uma pauta objetiva para a reunião e a apresentação de um raciocínio estruturado: "O MinC tem tal foco, que no âmbito das artes visuais acontece de tal forma. Estamos no ponto A e desejamos chegar no determinado ponto B. Para isso, vamos fazer as ações X, Y e Z". Pela ausência de uma ideia clara, o Ministério procura se amparar na proposição difusa de um diálogo que está mais próximo da "cultura da reclamação" que propõe discussões de pautas inacreditavelmente próprias (em São Paulo, José Celso Martinez Correia pediu que o MinC se manifeste contra a tentativa de mudança do nome do Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC).
Nesse momento, a melhor contribuição que se pode dar ao MinC é chamar o Adjustment Bureau, do filme em cartaz a partir da história de Philip K. Dick, onde um órgão supremo do Olimpo da burocracia vintage, realiza ajustes nos destinos do homens para levá-los à virtude. É exatamente o que precisamos. Um grupo de gestores de comunicação com experiência em cultura para ajudar a ministra na estruturação de um discurso público sobre qual é o plano, capaz de envolver a sociedade numa determinada visão.
Tenho certeza que o bureau começaria com o aceno de uma bandeira branca da pacificação. Reconhecimento que a coisa começou com o pé errado. Então vamos dar um restart. Papo direto: "o MinC é (inserir conceito principal de gestão). Acreditamos em (inserir valores de marca). Somos diferentes da gestão anterior sim por (estabelecer contraste). Vamos comprar briga com (determinar causa) porque essa é a nossa crença. O gabinete da ministra está aberto a todos aqueles que vierem trazer propostas, ideias, projetos, solucões. Os que quiserem trazer queixas, reclamações e soluções pessoais também serão atendidos, mas depois de todos que tiverem uma contribuição positiva para o Brasil".
Acredito que o momento é de apoio - não à pessoa da ministra em si, mas pelos caminhos que podem ser abertos especialmente a partir do trabalho de secretarias estratégicas lideradas por pessoas como Marta Porto e Claudia Leitão, cuja secretaria de Economia Criativa ainda não foi oficializada. Ao sair do personalismo do ministro como soberano e apresentar uma causa forte a ser partilhada pelos homens (e principalmente pela sua equipe), o MinC pode dar a volta por cima. Acho que em quinze minutos eu consigo convencer a Ana de Hollanda disso.
Excelente artigo,Luis Mendes.Comprometido com uma politica cultural séria voce aborda e apresenta soluções para os problemas sérios que contribuem para a maresia implantada no Minc.
Cezar Ubaldo · Feira de Santana, BA 26/5/2011 19:16Nesse governo falta gente capacitada para qualquer coisa... Taí o exemplo...
EdimoGinot · Curitiba, PR 27/5/2011 08:37Pois é... as coisas com a funarte podem ter tido uma mudança positiva justamente quando sentamos pra conversar. Falta o minc fazer isso, e pedido de entidades solicitando reuniões é o que não falta.
Téo Ruiz · Curitiba, PR 27/5/2011 20:51Para comentar é preciso estar logado no site. Fa�a primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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