Sistema de Animação ganha prêmio FILME LIVRE!

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Felipe Obrer · Florianópolis, SC
30/4/2009 · 16 · 2
 


O documentário que retrata Toicinho Batera (Lourival José Galliani), dirigido por Guilherme Ledoux e Alan Langdon, acumulou anteontem (dia 26 de abril) mais um prêmio. E o Toicinho ganhou o prêmio de melhor personagem. Não conheço os competidores, mas aposto que o resultado foi justíssimo.

Leia ao final do artigo Entrevista com Guilherme Ledoux e Alan Langdon

O texto do site da Mostra do Filme Livre 2009:

"Na noite de domingo, 26 de abril, numa lotada sala de cinema do CCBB Rio, aconteceu a sessão premiada da oitava edição da Mostra do Filme Livre. Na categoria FILME LIVRE!, focada em filmes realizados sem apoio estatal direto, o grande destaque na definição do júri foi o longa-metragem "SISTEMA DE ANIMAÇÃO", de Alan Langdon e Guilherme Ledoux, de Santa Catarina, pois:

"As pessoas são mais importantes que o cinema". Essa frase de John Cassavetes justifica o prêmio dado não só ao filme, Sistema de Animação, mas também ao personagem principal (...). Com uma estrutura simples e dinâmica o filme cativa não só pelo carisma de Lourival, mas especialmente por sua postura marginal, íntegra e autêntica com relação à indústria cultural e ao mercado das artes. Um artista livre, um filme livre, uma história de amor livre. Uma ode à loucura e à liberdade genuína dos loucos." (Gabriel Sanna, júri da MFL 2009)

e porque "com o dito boom do documentário no Brasil, temos assistido a uma proliferação de filmes sobre os assuntos mais diversos. Mas quantos deles guardamos no espírito quando saímos da sala? Quantos deles podem se orgulhar de revelar de fato algo do mundo com graça e propriedade? E quantos deles são capazes de realmente compreender seus personagens e deixar a imagem fundir-se a ele e a seu mundo? Sistema de Animação não é, portanto, um “documentário”, é um filme livre que passeia pelo universo mítico de Toicinho, este fantástico sujeito que revira o mundo diante de nós, durante os minutos que dura a projeção." (Tatiana Monassa, júri da MFL 2009)

Assim, também foi concedido o prêmio especial do Júri para ´Toicinho`, personagem do filme ´Sistema de Animação`"

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Fico muito contente ao saber do prêmio.

Conheço o Toicinho há cerca de 8, 9 anos, e acompanhei algumas das mudanças que a vida dele passou nos últimos tempos. A pessoa retratada no documentário é fenomenal, mas o Toicinho em pessoa é um documentário a cada cinco minutos de convivência.

Sistema de Animação é o produto final extraído de mais de 40 horas de material bruto. O processo de edição deve ter sido longo e trabalhoso. Lembro de ter cruzado com o Guilherme Ledoux e batido papo no ônibus, há uns quatro anos, e o filme estava em processo. Aliás, vale salientar que o vínculo afetivo com o Toicinho, que facilitou enormemente as coisas, partiu do Ledoux. Alan Langdon, como amigo dele e artista dedicado ao audiovisual, entrou como parceiro no projeto. Que aconteceu de maneira pouco burocrática. Os caras fizeram o filme do jeito que queriam. Convém dizer que o empenho e a dedicação de energia de cada um foram equivalentes e indispensáveis para a feitura. Ficou pronto em outubro de 2008.

Assisti à pré-estréia e virei fã confesso do Sistema de Animação. Depois fui ao lançamento também, que teve apresentação dos diretores e do Toicinho, shows ao final (com Nenê entre os músicos) e confraternização num bar pra encerrar a noite. Que pra mim culminou na carona até a casa do Toicinho. Acabei dormindo no quarto dos fundos lá. Não era a primeira vez que eu acabava pernoitando na casa dele. A primeira foi na casa do Ribeirão da Ilha ainda, em que a energia elétrica funcionava, coerente com a profissão do morador, a bateria. Mas essa de carro. A outra ocupava a sala conjugada com a cozinha. E tinha uma irmã menos barulhenta, de estudo, na qual tentei seguir alguma lição do mestre. Lamento, mas além da experiência humana, musicalmente não fui adiante no meio dos pratos e tambores.

A terceira vez que vi o documentário foi na casa do Toicinho e da Rocío, em dvd, sentado numa poltrona no quarto deles. Isso uns 6 anos depois do Ribeirão da Ilha. Assisti ouvindo os comentários do protagonista ao vivo. Situação engraçada de viver. Toicinho comentando Toicinho. Dando risada, lembrando de mais alguma coisa.

Não sei bem o que dizer sobre ele. Só sei que por baixo da casca aparentemente delirante está um cara com todos os parafusos do lugar.
A vida é que é uma maluquice. A chave do hospício está do lado de fora.


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publicado também no blog obrér cultural

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veja o trailer do Sistema de Animação, o teaser e a entrevista dos diretores.

ouça a entrevista do Toicinho Batera para a Rádio Overmundo


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Entrevista com Ledoux e Alan

Foi por e-mail o diálogo.

Felipe Obrer: Postei um texto no Overmundo e acho que cairia como uma luva uma entrevistinha. Fiquei muito contente ao saber há pouco pelo e-mail da premiação na Mostra do Filme Livre. Parabéns.

Guilherme Ledoux: Muito massa né?!!


Felipe Obrer - Lá vão as perguntas

Guilherme Ledoux - ou ye, vou me atrever a responder ok?




Obrer - Quanto tempo o processo levou, da idéia inicial até a primeira exibição?

Ledoux - Bom, começamos há 6 anos, e o processo foi dividido em 3 partes. No primeiro ano captamos a maioria das imagens; colamos na velha ["velha" é o tratamento carinhoso dedicado ao Toicinho] mesmo, e tentamos registrar um pouco da cena instrumental de fpolis; em seguida passamos um bom tempo (quase 2 anos) decupando o material. Em seguida passamos mais dois anos editando, tudo junto, dai percebemos que para algumas cenas fazerem sentido (nos colocando no lugar do espectador) optamos por coletar mais algumas cenas (a da bolha por exemplo). O plano das idéias foi super coletivo na hora de editar, cria uma certa identidade. Parece que Alan e eu (Ledoux) estamos subindo uma escadinha imaginária, onde o primeiro vídeo co-editado foi o da "cassacha" providência, em seguida decidimos editar o "fim do mundo", que já tem um caráter documentário (e foi uma boa base para o sistema) e em seguida veio este presente, que é a idéia de se produzir um documentário sobre esta figura maravilhoza, o Toucinho que nos ensina diariamente.




Obrer - De onde saiu a grana pra cobrir custos de produção?

Ledoux - Cara, normalmente não nos apegamos às dificuldades impostas aos artistas, se estamos com vontade de fazer algo fazemos! E agimos assim há aproximadamente 10 anos... dá pra acreditar? Te confesso que sinto hoje uma vontade de ter o reconhecimento financeiro, mas já sei que se pintar outro vídeo vamos realizar com ou sem dim dim, hahaha; Acredito que respondi, né? Mas a grana saiu do nosso bolso mesmo... se fosse custear esta produção, diria que gastamos por volta de 2.000 reais em fitas, gasolina (pro carro e pranois mesmo, kkk), paçoca, cachaça e pão.

Alan Langdon - Então... o dinheiro saiu dos nossos empregos do dia-a-dia. O Ledoux trabalhando na orquestra, tocando em bandas, dando aulas... e eu trablhando na Unisul como montador, fazendo freelas, etc... Prefiro separar o trabalho remunerado do artistico, por enquanto, pois não vejo como uni-los e acabo gostando das limitações que o orçamento nos dá, isso estimula a criatividade e o improviso e dá uma cara só nossa.



Obrer - Qual é a sensação atual de vocês quanto ao filme, agora que já recebeu boa aceitação da crítica e do público?

Ledoux - Com certeza não realizamos vídeos com intuito de agradar só o público, pois acreditamos na nossa direção, ao mesmo tempo profissional e descomprometida, acho até que é esta a nossa fórmula, mas a sensação de imortalizar o Toucinho e ao mesmo tempo produzir o nosso trabalho e ainda receber tantas palavras lindas de profissionais da área, populares, músicos, etc é sensacional !!!!!!!!

Alan - É um misto de: 1) anestesia após 6 anos de trabalho duro e demorado (agora não vejo hora de terminar o filme sobre minha cadela Betova, he he), 2) cansaço de ver as imagens mil vezes, editadas na maneira que estão: por que não de outra maneira? 3) Alegria enorme ao ver a coisa andar tão longe (e ainda vai mais, certamente) e receber tanto apoio dos amigos e colegas, e mais inédito, o apoio e reconhecimento da crítica que tem se mostrado muito impressionada. Acho que o tempo que levou para fazer e a duração final do filme são proporcionais aos retornos que estamos recebendo na forma de louvores e empolgação das pessoas. Acho que é o trabalho mais completo que fizemos nesse sentido, dese a captação, edicao e recepção do público... Ufa! O que vem a seguir?




Obrer - Vocês acham que a vida do Toicinho mudou de algum jeito depois do lançamento do documentário?

Ledoux - Honestamente? Não, ele continua o mesmo, imprevisível, inquieto, sem grana e com pouco trabalho ... coisa de gênio mesmo, o vídeo apenas ajudou a trazer ele a um público que ainda não o conhecia.

Alan - Concordo... Quando o filme estava sendo lançado, ele estava tocando mais rock, pop, covers. Hoje ele está de volta ao jazz, samba, instrumental. Amanhã ele vai mergulhar no vanerão experimental eletrônico: ele é imprevisível e não gosta de parar no memso lugar por muito tempo, como ele mesmo diz: "Fobia de parar"!




Obrer - Quais são os planos de distribuição que vocês têm em vista?

Ledoux - Por enquanto ainda não pensamos muito nisto. Estamos numa fase de tentar entrar em festivais e levar o doc aos quatro cantos; terminamos agora de legendar em inglês e acho que a de francês está a caminho, ainda precisamos conseguir alguma verba e encaminhar as devidas cópias a cada participante... me sinto ate envergonhado em não poder nem prensar 50 copias para cada participante, então creio que o vínculo com alguma distribuidora vem em seguida ...

Alan - Isso o tempo vai dizer, realmente. Primeiro, festivais e mostras. Inclusive porque qualquer prêmio ajuda a dar visibilidade e valoriza o filme na hora de tentar distribuí-lo.




Obrer - Existe a possibilidade de publicação sob licença creative commons no Overmundo?

Ledoux - Teremos que nos reunir e conversar.

Alan - No momento não temos ideias sobre isso, até porque pode conflitar com a questão da pergunta anterior (distribuição), mas em geral acho interessante a ideia, para o audiovisual em geral.




Obrer - Se alguém quiser exibir o documentário em qualquer lugar do Brasil, como fazer?

Ledoux - Só depende do caráter da exibição, se for festival "qualquer" um; o mais importante é manter a magia de se reunir pessoas em uma sala escura para exibir o documentário.



Obrer - Noves fora, qual é o saldo da experiência de ter feito o filme pela via independente?

Ledoux - ????? nove foras ?????? Bom, o saldo, é de nos sentirmos guerreiros da cultura que mostra que é possível se fazer arte independente, e também na liberdade de fazer um doc sem travas, descrevendo exatamente como vemos o Toucinho, do jeito dele e nosso, sem gravatas nem polainas. Mas ao mesmo tempo me irrita ver um potencial como o dele na mesma, sem dignidade, e isto se estende a nós também. Felipe, vida longa ao teu trabalho, estamos juntos fazendo o que podemos !!!!!

Alan: Concordo em gênero, número e grau... e.... ?????novas foras????? :)







.....

Alegria imensa receber as respostas.

.....



Clique aqui e conheça mais trabalhos da dupla.

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jara
 

Passeei pelos "registros obrér". Muita coisa bacana por aqui.
Valeu!

Hein, o Chacal tá com uma proposta massa de discussão sobre poesia. O texto base ele coloca no blog. É do Décio Pignatari.
Muito bom. Tô lendo para posteriores debates. Afins?

Bjão, rapaz; bom vê-lo.

jara · Florianópolis, SC 14/5/2009 16:26
1 pessoa achou �til · sua opini�o: subir
jara
 

Então, sendo útil,
Muito merecido o prêmio ao trabalho de Ledoux e Alan. Essa "ode" ao verve que tem Toicinho, pessoa-música, em forma de documentário, faz reverberar na cena musical um ânimo novo em toda a gente e aos "guerreiros da cultura", os meus parabéns, fazendo a cena!

jara · Florianópolis, SC 14/5/2009 18:27
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