- Richard Clayderman não é humano.
- Que é isso ? – supreendeu-se o amigo.
O primeiro tomou mais um gole de cerveja, pensou um pouco e respondeu:
- Richar Cleiderman não é gente. Ele é um elfo.
- Que idéia...
- O sujeito tem a mesma cara há 30 anos, vive envolto numa aura luminescente, com raios entrando pela janela, usa roupas claras e acho que já vi ele num dos Senhores do Anel.
- Quer dizer Senhor dos Anéis! – emendou o cético com um tom irônico.
- Outra embromação. No fim, só existia um anel e um monte de gente querendo botar a mão nele.
- Pelo seu raciocínio, rá, peraí, rárá, Roberto Carlos é um elfo – brincou o cético- porque ele só se apresenta num lusco-fusco azulado, com fundo musical. Muito estranho!
- Isso sim é bobagem.
- Por quê? Você tem o monopólio sobre a verdade, ou melhor, sobre as asneiras?
- Roberto Carlos é antigo, não é esquisito. O Richárde sim é elfo.
- Eu disse estranho cara, mas, tudo bem.
- Elfos não são estranhossão, são seres fantásticos, místicos, e, há quem pense, de outro planeta.
- E o fato de um músico ser antigo vem só reforçar a idéia, já que elfos não envelhecem? Tenha piedade. Será que o cara não pode apenas fazer sucesso, ter uma música de qualidade?
- Quem? Roberto Carlos ou o Richar Clayderman? - perguntou seriamente o amigo, e esvaziou mais um copo.
- Nas capas do disco o Richard Clayderman não envelhece, e o cara não morreu, ainda, logo, é elfo – falou o cético.
- Pô rapaz, tu é chato!
- É, pensando bem, talvez... Tem o Júlio Iglesias, certamente um elfo argentino que...
O cético parou no meio da frase e pediu uma dose e outra cerveja.
O amigo ficou esperando, mas como o companheiro nada dizia, resolveu ir ao banheiro. Ao se levantar, sentiu uma força apoderar-se de seu corpo. Ficou arrepiado, via o mundo dar voltas. Tentou retornar à cadeira, mas o meio-fio era mais próximo e seguro.
- Que foi cara? Tú ta legal?
- Não bicho, acho que estão lendo a minha mente.
- Quem, maluco?
- Os elfos.
A cerveja chegou. O Cético, apavorado, encheu os copos, virou sua dose e foi sentar-se ao lado do companheiro:
- Ih, meu irmão. Sabe... tú pode tá certo! Olha como eu tô suado, aí! – disse o cético solidário.
- Bicho, os elfos vão dominar o mundo. Eles enfiam essa melodia na gente, sempre a mesma coisa. É o Roberto Carlos, é o pianista engomadinho....
- Pô – interrompeu o cético – Putz cara, putz - e tomou outra dose nervosa.
- Que foi, maluco?
- O David Boee cara, o Daivid Bolvi, Bluwe, Boooouuuuiiii.
O amigo aguardava sentado, tentando equilibrar a cabeça sobre o pescoço. E, o outro, antes cético, continuou:
- O David Bolwie cara, em Fome de Viver. Pianinho, musiquinha chata, movendo-se lentamente, ambiente esfumacento, penumbras e contra-luz, e uma conversa chata pra burro. E os cara num morria bicho. Bom, morria, ou, tava morrendo.
- Não, não morria, o cara era vampiro.
- Só despiste bro, só despiste!
Os amigos permaneceram em silêncio. Ficaram no meio-fio observarando pedrinhas no asfalto, até que um deles pediu a conta. Uma vez paga, levantaram-se. Eram os únicos na rua àquela hora. Do interior do recinto ouvia-se um empilhar de cadeiras. Entreolharam-se e saíram com vagar e grande dificuldade.
- O mundo é muito doido, doido – disse o que iniciou a conversa. Parou por um instante; depois cambaleou apressado até o muro e despejou sua mágoa:
- Bicho! Tá vendo.... isso.... isso é terror puro.
- É, meu irmão. É tensão nervosa. O mundo tá virado, a gente fica muito estressado. E ninguém quer ver a verdade óbivvv, óvibia, preferem acretitar no sistema – afirmou o ex-cético.
- Faz parte do plano, cara.... faz parte.... argh... do plano. É muita filosofia pra cabeça das pessoas, mano.
Os dois amigos seguiram apoiando-se mutuamente, em matéria e em espírito.
No dia seguinte, um canal de tv anunciava um filme, um show e a televenda de um pianista conhecido. Muitas pessoas tiveram a sensação de dejavú, mas, apenas dois jovens tinham a certeza de que suas mentes haviam sido apagadas.
Os ingênuos nem chegaram a imaginar que tudo não passava de marketing, e, que, Richard Cleiderman jamais existiu. Era apenas um personagem criado pela indústria fonográfica.
Rodrigo, olá!
Muito bom o seu texto, bom mesmo.Sugiro que vc envie um convite para Tetê, ela dá uma corrigidas legais pra gente.
Convide-me sempre, adorei.
Bjs
Oi Rodrigo! Nossa que bom, mais um conterrâneo aqui no overmundo(hehehe). Bom, o seu texto está muito bom, cômico e ao mesmo tempo com ar de mistério, achei deliciosa a leitura dele. Entretanto, sugiro que você reveja alguns erros ortográficos, no mais está ótimo, parabéns!
Um abração!
Seu texto é mais indicado para o banco de cultura. Leia o participe para saber mais sobre onde postar o que no overmundo, Rodrigo.
Ilhandarilha · Vitória, ES 6/9/2007 00:31Para comentar é preciso estar logado no site. Fa�a primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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