sobre o colaborador
Quem eu sou? Como posso dizer? Ah me espanta já não fazem Jessicas como antigamente. Nasci pequena e cresci aos poucos. E pouco cresci. Fiz três revoluções, todas perdidas. A primeira contra Deus, e ele me venceu com um sórdido milagre. A segunda contra o destino, e ele me bateu, deixando-me só com seu pior enredo. A terceira contra mim mesma, e a mim me consumi, e vim parar aqui.
A essa altura da vida, além de descendene e vivo, ou, também, antepassado.
Assim posto, dito e passado, abro aqui, hoje, nesta praça colorida, o minha modesta banca de poemas. Numa sociedade de consumo, só o Shopping existe para a eternidade. E nesta banca aqui você encontrará sobretudo o supérfolo, o circunstancial e o dispensável, mas também, algumas vezes, artigos mais preciosos, como o pão do espÃrito (dormido), a carne de minha carne (que, aliás, é fraca) as aves que aqui grojeiam, os ovos do ofÃcio (perdão, professora, os ossos!). Cada semana nesta banca, virei vender meu peixe. Que é pobre, mas se multiplica.
(Millôr Fernandes - Adaptado)