sobre o colaborador
Que coisa mais linda
Era como uma noite de carnaval
Em Olinda
Obesas mulheres usavam trapos coloridos
E banhavam com baldes de água fria
Os pés daqueles que por ali passavam
Vagávamos nós por entre um mundo de gente
Metidos nas mais diversas fantasias
Percorrendo aquelas vielas eu via
Você num traje de madre
Despe-se do seu véu e o chapéu
Pontiagudo revela sua pele
Clara pele lavada
InconfundÃvel os cachos dos teus cabelos
Vastos, pretos, iluminados
Uma noite de carnaval atemporal em Olinda
Que coisa mais linda
Que coisa mais linda
Samuel Luciano Assunção
Redemoinhos
Que faço eu agora sem você
O que passo eu sem nada a temer
Sentir o coração lutar contra o ponteiro
Que gira lento
Giram lentos os ponteiros
Na noite uma guitarra aguda
À noite baixa
A temperatura do escritório
Uma pausa para mais um trago
Uma brasa
Última luz difusa dissipa no ar
A sairavada de sinos
O desespero dos sinos
Desperta desse sonho com o anjo
Deixa aberta a porta aberta
A estrada aberta contorna redemoinhos
Samuel Luciano Assunção
Experimentar
Parecem perdidos
Procurando um caminho
Menos cruel
Com algum ‘suel’
Para poder gastar
Os meus sentidos
Limito o ponto
Em que algum encontro
Vá nos revelar
O encanto,
Que a alegria
E a sintonia
Com euforia,
Pode chegar
Percebo seus intuitos
Inocentes tão impuros
Querendo uma reação em cadeia
Desnorteia
Despertar
O momento
Está contado
Na memória
Atordoada
Entendendo tudo
O contato agudo
E todo o seu mundo
Experimentar
Samuel Luciano Assunção
Meu telefone
Meu telefone não toca mais
Do mesmo jeito
A flauta é mais triste
O sol mais carente
Inteligente a tática
De pensar em estática
Em visões de outro mundo
Em mecânica
Mistério oculto
Meu telefone mudou o tom
Se perdeu no caminho
Deu uma busca na memória
Esqueceu tudinho
Inconseqüente a prática
Muito melodramática
Da partida
Seus olhos molhados
Teu abraço contido
Meu telefone anda muito deprimido
Sentindo falta
Do teu toque
Do teu tino
Samuel Luciano Assunção
Autopsicografia
O Poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa