CAPELA DE SANTANA
A Capela de Santana é um marco na história de Uruaçu. Era o ponto de encontro das primeiras famílias, todos os acontecimentos se faziam no largo em frente à igrejinha. Essa Capela foi construída quando o povoado de Santana, sede da fazenda do Cel. Gaspar, hoje cidade de Uruaçu, já estava bastante desenvolvido.
Conforme registros em publicações locais, o coronel decidiu construir um templo católico, uma igreja dedicada à Senhora de Santana. Esta seria construída com quarenta palmos de vão de comprimento e seis de largura. Seriam gastos na construção um conto e duzentos mil-réis, como cita o contrato feito na época com o empreiteiro.
Segundo o escritor Cristóvam Francisco de Ávila, da cidade de Uruaçu, para inaugurar a Capela o Cel. Gaspar incumbiu o filho Francisco de se deslocar até a Vila de Pilar, hoje Pilar de Goiás, e negociar a troca de uma histórica imagem da Santa, de arte portuguesa dos tempos coloniais. Esta ficava sentada numa luxuosa cadeira com estofamento cor-de-rosa, tendo ao lado esquerdo a Virgem Santíssima apontando para a filha. Esta imagem foi a principal aquisição para o povoado que estava nascendo.
A inauguração da capela se deu no dia 15 de maio de 1922, quando foi instituída a festa do Divino Espírito Santo, bem como as festividades de Senhora Sant’Ana a 26 de julho, e as comemorações do Natal, que se tornaram celebrações tradicionais do lugar.
Dona Olímpia, hoje com 100 anos de idade completados dia 15 de fevereiro de 2007, narra detalhes de como a vida social se fazia em torno da Capela de Santana. Ela se casou nessa igreja, no ano de 1937 com o filho caçula do Cel. Gaspar, o Sr. José Bonifácio de Carvalho, já falecido. Com entusiasmo ela conta como todos os encontros familiares, sociais eram feitos no largo frente à igreja. Havia as festividades que deixaram muita saudade, segundo ela.
Meio século depois, essa capela foi demolida em fevereiro de 1978. No local foi erguido pela Companhia Telefônica de Goiás – Telegoiás – um prédio padrão destinado ao funcionamento da Central Telefônica de Uruaçu, sistema D.D.D., inaugurado em 04 de julho de 1980.
As residências próximas à Capela de Santana são construções antigas, muitas da época da fundação da cidade, os moradores que vivem nas proximidades, a maioria são parentes próximos do fundador, o Cel. Gaspar. O impacto causado com a destruição da igreja se fez forte na vida dessas pessoas que sempre fizeram dela o ponto de encontro das famílias, dos amigos, era um ponto estratégico de interação entre a comunidade, que assistiu com muita tristeza essa demolição sem poder fazer nada.
A Capela de Santana foi reconstruída pela Prefeitura Municipal de Uruaçu no ano de 2004, na gestão da prefeita Marisa dos Santos Pereira Araújo, num ato corajoso, defendendo a preservação da história local.
Para a reconstrução da Capela de Santana, a Prefeitura buscou informações com moradores antigos, fotos que são poucas, inspiração artística de alguns e depoimentos que traduziam os detalhes, e empenho nas pesquisas por parte do escritor Ezéczon Fernandes de Sá, que tinha na reconstrução dessa Capela um ideal fixo.
O valor histórico da Capela de Santana não poderá ser restaurado, mas um pouco dele está de volta nessa reconstrução. Essa Capela também está sendo reconstruída novamente dentro do Memorial de Serra da Mesa, um dos maiores do Brasil que é um espaço cultural que contará toda a história da região do cerrado na área do Lago de Serra da Mesa. (detalhes serão publicados posteriormente).
Seu Emenegídio Pereira da Silva que reside há 30 anos perto da Capela, considera que a demolição foi um ato de afronta contra a população, à memória da cidade. Ele diz o seguinte:
- Para nós moradores mais antigos de Uruaçu, essa Capela representa alegria, amor, foi uma tristeza muito grande o que fizeram, não ouviram a opinião do povo.
Sobre a reconstrução ele diz:
- Essa reconstrução valeu muito, guarda a lembrança da Capela tradicional, só que não corresponde à original, é diferente, maior, porém a outra mesmo sendo mais simples, era a original.
Muitos reclamam da falta de atenção da diocese local para com a Capela de Santana. Segundo alguns moradores, não existe mais missas periódicas, a Santa original está guardada num museu da Igreja Católica, e nem mesmo nos dias principais, nas procissões essa santa é trazida para a Capela de Santana. Colocaram um outra santa substituta no local da Senhora Sant´Ana original.
Ficarão histórias, lembranças enterradas que podem voltar à tona, folheando registros como:
“Ali deitado na porta, bem na relva, ou em frente à igrejinha, eu li os primeiros contos... contemplei o mundo pelas janelas de minha fantasia...” (SOBRINHO, 1997,p.11)
As histórias antigas sobre a Capela de Santana geram saudade, poesias como essa de minha autoria:
CAPELA DE SANTANTA
Tenho sinos tocando em murmúrios,
Uma dor dentro do peito,
Tenho um amontoado de causos
Sob o amontoado de pedras...
Ruínas duma capela
Ao som dos sinos que tombaram.
Capela da minha infância
Com causos de pote de ouro enterrado,
Sonhos de criança, memórias do coronel,
Com histórias de um povo
Escondidas nas janelas de pau
Da Capela de Santana
Roubaram o pote de ouro
A janela de pau ficou aberta...
Roubaram a memória da terra
Enterraram a história
Nas ruínas da capela...
O olhar agora adulto, sofrido,
Vê a capela reconstruída,
Memoriza os detalhes...
Perde-se nas lembranças...
Rebusca potes de ouro, causos, cantigas,
Que o tempo não traz de volta...
Belo texto Sinvaline. Parabens pela precisão do assunto e exatidão do conteudo.
Lastênia · Uruaçu, GO 15/10/2007 21:24
Uma luz no fim do tunel! Aos poucos a preservaçao de nossa memoria ganha força, mesmo que em uma reconstrucao.
Parabens.
marco antonio
Obrigada Lastênia, voces fazem parte da historia de Uruaçu.
Olá Marco, isso mesmo, uma luz no fundo do túnel...
Ontem encontrei algo escrito sobre Trairas que nao foi publicado, me emocionei.
Obrigada , volte para votar..
abraçao
sinva
Sivaline,
muito boa sua matéria sobre a Capela de Santana e a cidade de Uruaçu, que eu não conhecia. O texto está bem desenvolvido, informativo e envolvente. Chamo atenção apenas para pequenos problemas, como na 4a linha do primeiro parágrafo: largo em frente à igrejinha; 2o parárgrafo, terceira linha: falta a crase em "igreja dedicada à Senhora de Santana"; no mesmo parágrafo, 6a linha: "seriam gastos um conto e duzentos mil-réis", no plural e com hífen. No 3o páragrafo: cor-de-rosa e no 4o, segunda linha: "quando" e não "onde" foi construída. Nada que comprometa o texto, mas como está em edição acho que vale a pena alterar. Parabéns. Um abraço.
Nivaldo que maravilha! Sinceramente a gente acostuma com a leitura e pode passar esses detalhes que tanto critico ... rs
Essa fila de edição é muito válida. Obrigada mesmo, vou alterar agora.
bjs
sinva
Beleza de resgate, Sinvaline. Vc teve acesso até ao contrato de construção? Coisa rara de se ver num país que tão pouco preserva suas fontes históricas.
abcs
Sinvaline e a capela de santana
História de muitas histórias
Através do olhar de uma capela.
Pela janela entreaberta
Entra o sol da esperança,
Pela fresta da porta
A lembrança.
O bimbalhar dos sinos,
Os causos, as cantigas...
Ecoam no vazio, entre o céu e a terra.
A imagem merencória:
Do pote de ouro, dos encontros e desencontros...
Viajam pela memória
Sonhos de criança!
A reconstrução artificial
A substituição da santa original
A descortesia
O desleixo
Entristece Emenegídio Pereira
Sinvaline, sábia
Como um sabiá
Sagaz como um beija –flor.
Atenua a dor do peito...
Apesar de a rotina ser voraz
Apesar de tudo não ser como dantes
(...) é a mulher da lida
Mulher que resgata Histórias
arrancadas dos livros de muitas vidas.
Uau, mulher, lindo!
Vou mostrar para o seu Emenegídio...
Obrigada
Sinva
Eu sou goiano, embora more em Brasília. Gostei, apesar também de não cultuar a tradição pela tradição e nem ser bairrista. Certos aspectos da memória coletiva devem ser preservados. Valeu!
José Braga · Brasília, DF 17/10/2007 15:44
Silvaline,
estas imagens me trazem lembranças de lugares, épocas e pessoas: Tenho amigos de infância, de Gilbués, espalhados entre Gurupi, Uruaçu, Porongatu. Ah Porongatu.
Legal esse resgate, um abraço, andre.
Obrigada André , em breve mais sobre Uruaçu, Lago de Serra da Mesa.
Apareça e mate a saudade daqui...
bjs
sinva
Sinvaline, você sempre nos brinda com sua luta em defesa de valores que não tocam a alma dos especuladores. Infelizmente, eles interferem na dia de todos, já dizimaram nosso cerrado e, agora, violentam a Amazônia. Mudaram o modo de falar em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, instalaram madeireiras, espalharam soja... E os governos, cinicamente, fesjetam o aumento do PIB.
Parabéns, menina!
Para comentar é preciso estar logado no site. Fa�a primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Voc� conhece a Revista Overmundo? Baixe j� no seu iPad ou em formato PDF -- � gr�tis!
+conhe�a agora
No Overmixter voc� encontra samples, vocais e remixes em licen�as livres. Confira os mais votados, ou envie seu pr�prio remix!