O Brasil teve vários ciclos econômicos cujas riquezas ficaram materializadas na paisagem urbana colonial de muitas cidades. Além do ciclo do ouro de Minas Gerais, cujas cidades históricas são muito conhecidas e fascinam os turistas pela beleza e opulência que ficaram daquela época, o ciclo do açúcar no Nordeste Oriental também deixou suas marcas visíveis na paisagem urbana.
Saindo de João Pessoa, Paraíba, pela BR-101 na direção sul, fui em busca das cidades esquecidas do tempo da opulência do açúcar no Nordeste Oriental, uma região comandada pelo Porto do Recife cuja rede urbana ia do Rio Grande do Norte até Sergipe e a navegação de cabotagem era o principal meio de transporte até que o assoreamento dos rios litorâneos e a chegada das ferrovias acabaram com esse meio de transporte no final do século XIX. São elas: Goiana e Igaraçú, em Pernambuco; Marechal Deodoro em Alagoas; Laranjeiras e São Cristóvão, em Sergipe.
Goiana fica na beira da BR-101 entre João Pessoa e Recife. Da estrada a impressão que se tem não é muito agradável, devido à pobreza urbana, mas ao entrar na cidade, na direção de seu Centro Histórico, percebe-se logo alguns monumentos e um casario colonial interessante na beira do rio. As Igrejas são os monumentos mais ricos e conservados na maioria das cidades históricas. Goiana fica na beira da estrada, foi atraindo muita gente e hoje tem muita favela e pobreza, o que é comum nas antigas cidades coloniais nordestinas. O viajante tem que adentrar pela periferia até chegar na área histórica e uma vez lá, lapidar o olhar, garimpando a beleza histórica e arquitetônica, exercitando o olhar e aprendendo a ver a beleza esquecida por trás da pobreza e da falta de preservação.
Em Igaraçú, o Centro Histórico é mais preservado e a cidade também está situada na beira da BR-101, de onde não se vislumbra a beleza do patrimônio ali escondido, onde aportou Duarte Coelho, naquela que se transformaria na Capitania mais próspera da colônia: Pernambuco. Lá estão a primeira Igreja do Brasil e o convento de Santo Antônio, com uma exposição permanente e espetacular de arte sacra e de pinturas à óleo, em tamanhos enormes que retratam os primórdios da colonização do Brasil naquela região. Da antiga Casa da Câmara, que fica numa colina, tem-se uma vista dos manguezais, que beiram a cidade, em seus diversos cursos d’água, onde circulavam as barcaças de açúcar. Pernambuco foi muito rico na época do açúcar, recebeu vários cronistas estrangeiros e começou a decair na segunda metade do século XIX. Além de Olinda, a cidade mais conhecida dos turistas, Igaraçú e Goiana também contam essa história.
Algumas capitais nordestinas foram fundadas distantes do litoral por questões de segurança e de defesa contra piratas e invasores, sendo posteriormente transferidas para outras cidades como é o caso de São Cristóvão, em Sergipe, transferida para Aracajú e Marechal Deodoro, em Alagoas, transferida para Maceió.
Tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, a cidade de Marechal Deodoro encanta não só pelo alto nível de preservação dos monumentos e casario, mas pelo número de associações musicais. Ouve-se música instrumental por onde se caminha. Existem também muitas casas de artesanato local e um museu, onde nasceu e se criou o Marechal Deodoro, nosso primeiro presidente da república. É uma cidade à beira da Lagoa do Manguaba. O estado de Alagoas tem três grandes lagoas e por isso a pesca é responsável por parte da sobrevivência de seus habitantes. Lá diz-se que quando nasce uma criança joga-se barro na parede. Se o barro ficar, vai ser pescador e se cair, vai ser músico!
Ainda em Alagoas, partindo pela via litorânea para Sergipe, chega-se em Penedo, na beira do rio São Francisco. O patrimônio construído de Penedo evidencia a importância histórica do rio São Francisco. A sua riqueza é comparável às cidades históricas de Minas Gerais e de Olinda, em Pernambuco. São Igrejas riquíssimas, sobrados de até três andares e edificações públicas grandiosas.
De Neópolis, do outro lado do rio, já em Sergipe, a viagem seguiu pela BR-101 para Aracajú, atual capital do estado e de lá para as cidades de São Cristóvão e Laranjeiras.
A cidade de São Cristóvão não é tombada, mas apenas alguns de seus monumentos, como os conventos, as Igrejas e algumas edificações públicas, a exemplo do antigo palácio do governo do século XIX, que hoje abriga o Museu Histórico de Sergipe e que conta a história do Estado através de utensílios, mobiliários, armas, fotos e documentos, sendo a maioria do Brasil Império, excetuando-se a ala sobre o cangaceiro Lampião e seu bando e as obras de arte de artistas contemporâneos. O casario em São Cristóvão já está bastante modificado e a cidade, como um todo, descaracterizada do seu passado colonial.
Mas havia ainda uma parada em Sergipe: Laranjeiras e suas colinas de onde se observam as Igrejas e o casario bem mais preservado que em São Cristóvão. No centro comercial, os sobrados antigos foram adaptados para atender a economia local, onde o artesanato se destaca, assim como as manifestações de cultura popular. A cidade abriga anualmente um grande evento de cultura popular que atrai profissionais da área de cultura de toda a região nordeste.
Que bela contribuiçao. Vamos conhecer a história dessas cidades brasileiras esquecidas, desse Brasil que não está no mapa, nem na mídia.
valeu, Li
É isso aí Li,
Sua colaborãção é muito bem vinda!
Somos vidrados na História de nossa própria História, este país que não conhece quase nada sobre sí mesmo.
Que esta seja a primeira de muitas!!!
Grande abraço Guaicuru!
Li, do Céu
Fiquei nos retratos, indo e voltando; voltando e indo; vendo e lembrando.
à noite vou voltar e reler absorvendo, porque a His´toria é assim mesmo.
um abraço andre.
Oi, pessoal. Valeu muito pela força de vocês. Um arco-íris de paz para todos nós. Li
Li Silva · João Pessoa, PB 1/4/2008 16:54
Super bacana Li
Eu tive a oportunidade de ir em janeiro a Marechal Deodoro e Penedo.
Ótimas dicas.
Abs
Belo cenário, homenagem merecida amei a leitura texto! Parabéns
Berioliveira · Vitória da Conquista, BA 2/4/2008 02:07
Li, agora vim lê, vim lhe ver, agradecer à Crispinga pelo aviso,
e quebrar, merecidamente o lacre do secreto,
beijão, andre.
Overmana, que coisa linda!Nossas origens, nossas viagens mais significativas, um Brasil que o Brasil desconhece e precisa re-descobrir para entender que a gente pode ser realmente grande e soberano.
Olga Maria · João Pessoa, PB 2/4/2008 08:45
Parabéns, Li!
Que esta seja a primeira de muitas colaborações que só irão enriquecer ainda mais esse site!
BJK
Cris
Adorei poder ler sobre essas cidades.Obrigada.
clara arruda · Rio de Janeiro, RJ 2/4/2008 09:43EXCELENTE COLABORAÇÃO, DESTES TEXTOS QUE SE FAZ UM OVERMUNDOMAIS QUE PERFEITO.SOMOS GRANDES, UM PAÍS GRANDE!
Cintia Thome · São Paulo, SP 2/4/2008 10:25Obrigada pela força de vocês, overmanos e manas que me animam a escrever mais sobre esse Brasil cheio de singularidades que eu amo também!!!!
Li Silva · João Pessoa, PB 2/4/2008 18:32Oi, Li. Sou pernambucana de coração e amei saber sobre este pedaço da história. Um detalhe pequeno que em nada altera a sua colaboração: a grafia correta é Igarassu. Ë só para facilitar o acesso no google de quem procurar mais infos. Obrigada!
Lise Morosini · Rio de Janeiro, RJ 2/4/2008 21:30Ok, Lise, já encontrei as duas grafias, inclusive na própria cidade. A grafia Igarassu, vi nos textos de cronistas do século XIX. Valeu a info sobre o google.
Li Silva · João Pessoa, PB 3/4/2008 00:01
Maravilhoso Li, contribuição votadíssima!
Realmente... cidades não mais esquecidas, graças à você
Como é lindo nosso Brasil!
História também é cultura...
E a Cultura é a nossa maior Arte!
Parabéns!
Bjs
JP
Querido Jota Pê:
Descobri a sua música definidora:
EXAGERADO! VOCÊ É MESMO EXAGERADO!
beijos e abraços
do Joca Oeiras, o anjo andarilho
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