FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO DE CRIXÁS

Anadete Maciel
Seu Quim e esposa (in memorian)
1
Sinvaline · Uruaçu, GO
19/6/2009 · 25 · 3
 

Conheci em São Jorge Seu Quim e sua animada turma da Folia e Catira de Crixás. Todos humildes, devotos e seguros por estarem realizando um ritual de amor, que para eles é sagrado.

Infelizmente Seu Quim partiu, porém deixou seus seguidores que continuarão fielmente seguindo a tradição e preservando o folclore da cidade de Crixás em Goiás, como bem narra Anadete Maciel (sobrinha do seu Quim) nesse texto a seguir:


Festa do Divino Espírito Santo e Novos Paradigmas Culturais

O Artigo 1º do regulamento da Festa em Louvor ao “Divino Espírito Santo, expressa os objetivos da festa: “A Festa em Louvor ao Divino Espírito Santo, tem como seus principais objetivos, a manutenção e ao estímulo às tradições culturais e religiosas do município de Crixás – GO.”

No mês de junho acontece em Crixás a tradicional Festa do Divino Espírito Santo, inicia com as folias e o encerramento da festa é com a missa em louvor ao Divino Espírito Santo onde também há na porta da Igreja, a pós a missa, a Festa do Doce que é uma gentileza do Imperador da Folia.

Esta festa existe em nosso município, há mais ou menos 150 anos; a data de acontecimento da festa acontece em cerca de mais ou menos 50 dias após a Páscoa, época da ascensão de Jesus Cristo ao céu. É a festa de Pentecostes, ou seja, nessa ocasião comemora-se a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos e todos os que se encontravam reunidos com eles, como diz o relato bíblico:

“Ao cumprir-se o dia de pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do céu um som, como o de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo, e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.” (Relato bíblico: Atos dos Apóstolos 2,1-4).

De acordo com o livro “Crixás Nossa Terra, nossa gente” de autoria de Maria Madalena de Lima, a festa tem sua origem em Portugal ainda na Idade Média quando um monge recebeu uma revelação de que chegara sobre os homens da Terra ‘A Época do Espírito Santo’. Alguns adeptos, das idéias proféticas do Monge, migraram para o Brasil logo depois do período da Colonização difundindo a idéia, através da festa que é uma festa de louvor a Deus uma vez que o Espírito Santo é a terceira pessoa da Trindade Santa.

O francês Saint-Hilaire, quando esteve no Brasil entre 1816 a agosto de 1822 viajando, observando e analisando espécies vegetais na região Central do nosso país, especificamente próximo a Vila Boa atualmente Cidade de Goiás ou Goiás Velho, relatou o que chamou mais tarde cerimônia bizarra, quando encontrara no meio da mata “homens a cavalo conduzindo burros carregados de provisões; um deles levava uma bandeira, outro um violão, e o terceiro um tambor.” Quando perguntou do que se tratava “soube que era uma folia”. [Do livro: Antologia do Folclore Brasileiro – Luís da Câmara Cascudo – Global Editora]

E todos os rituais e personagens relatados por Saint-Hilaire em sua crônica “A Folia do Divino”, no século XIX, também foram relatados em forma poética por Sebastiana Ester Dietz de Oliveira, em: Terra dos Kirirás e Poemas Mais

“ [...] As festas tradicionais se faziam anuais: A do Divino Era entre elas A mais animada; Tinha o imperador Saída das folias Com seus Alferes, Seus foliões, Caixeiros e violeiros! Depois vinham as missas e rezas, esmolas e os leilões...fogos, roqueiras, fogueira, Capitão do mastro subida do mastro.[...]“

Se esta festa chamou a atenção naquela época, nos dias de hoje continua a chamar a atenção por reviver os costumes e usos dos tempos antigos, numa mistura de fé, diversão e manifestação da cultura popular de nosso povo.

Atualmente, como no passado, a festa é marcada pela atuação e apresentações de grupos folclóricos, como: os grupos de catira (dança), foliões e violeiros que visitam as casas dos devotos nos giros das folias. Nessas visitas, os cantores e violeiros fazem cantorias de quadrinhas apropriadas para saudações na chegada e também na despedida da casa visitada. Nessa ocasião, os anfitriões recepcionam os participantes com comidas, bolos e doces típicos. Durante a festa há arrecadações de esmolas e também o costume de os devotos fazerem e cumprirem promessas.

O povo crixaense está inserido no contexto da modernização e desenvolvimento, na história e no espaço geográfico. Não há como negar que tal fato tem nos distanciado de objetivos que passam pela nossa afirmação cultural. Sendo assim, há pessoas empenhadas em manter as tradições como por exemplo: pessoas saudosas como minha tia-avó Eulâmpia Neves Ferreira, falecida em 2002, que apelava:

"Vocês que são jovens não podem deixar acabar a nossa tradição"; e Tio Quim Maciel falecido recentemente, que fazia questão de preservar as tradições da Festa “ensinando crianças e envolvendo toda a comunidade.”

É necessário afirmar os elementos históricos e manifestações culturais de nosso povo, através da luta pela preservação das tradições crixaenses. Estamos vivendo a era da “globalização” onde os significados da fé e valores se confundem, por estarmos em contato a todo o momento com múltiplas culturas através dos diversos meios de comunicação, o que tem afetado diretamente a formação dos jovens que, afastados da cultura de nossos antepassados, estão perdendo a nossa identidade cultural em novos valores e paradigmas culturais.

Que no futuro, os jovens crixaenses reconheçam a festa com orgulho e não como uma “cerimônia bizarra”, como o fez o francês Saint-Hilaire, simplesmente por desconhecê-la.

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Anderson Frasão
 

Sinvaline e Anadete Maciel:

é notória a grande representabilidade e importância da cultura popular. A pouco li sobre Nazaré e sua Feira da Amizade e externo minha alegria de poder conhecer tais comemorações e, sobretudo, que elas sobrevivem aos avanços da modernidade, como bem disse Anadete. Em A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento, Bakhtinvalida essa peculiaridade e, sendo especificada e adapta a regionalidade local aguça o tempero ainda mais.

Anderson Frasão · Canhotinho, PE 21/6/2009 12:54
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Anderson Frasão
 

CORRIGINDO: sendo especificada e adaptada a regionalidade local...

Muito BOM!!!

Anderson Frasão · Canhotinho, PE 21/6/2009 12:56
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azuirfilho
 

Sinvaline · Uruaçu (GO)
FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO DE CRIXÁS

É Divina a Festa do Divino, ele move as pessoas para a frente, para levarem em frente esta Bandeira Sagrada com a figura do Espírito Santo.
Muito importante a divulgação porque mesmo a gente estando longe somos envolvidos na reflexão e no Amor que o evento encerra.
Amor que eleva e liberta.
Parabéns pelo Trabalho de tanta dignidade.
Abração Amigo.

azuirfilho · Campinas, SP 5/7/2009 17:59
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