O roteirista anônimo da Turma da Mônica

Divulgação
1
Pedro Santos · Estônia , WW
9/12/2011 · 21 · 4
 

Ao receber por e-mail uma dessas correntes de PowerPoint que contava uma história de amizade entre Cebolinha e Cascão, Paulo Back finalmente sentiu que seu trabalho estava recompensado.

A historinha, que traz um retrospecto da amizade dos protagonistas da Turma, foi publicada em 2004 e desde então é uma das mais reproduzidas em mensagens do gênero pela internet. Deu até origem a dezenas de vídeos no Youtube que já somam mais de 900 mil visualizações.

Como em todas as histórias da Turma da Mônica, ela leva a assinatura de Maurício de Sousa. Mas a inspiração, a ideia e o roteiro partiram da mente de Paulo Back, um músico que trabalha há 17 anos como roteirista de histórias em quadrinhos.

Bem no centro de Florianópolis, Paulo mora na cobertura de um prédio de 10 andares com a esposa e dez gatos. “Ele deve tirar as ideias das historinhas dos gatos”, explica o porteiro do prédio onde Paulo mora, sem esquecer de alertar que o músico “não gosta que fale muito das historinhas que escreve”.

Com tanta paixão por gatos, não é difícil imaginar que o personagem preferido de Paulo seja o gato da Magali, o Mingau. “Eu gosto do Mingau, mas na verdade o personagem preferido tem que ser aquele sobre o qual estamos escrevendo. Se não entrar na cabeça dos personagens não dá pra fazer história.”

Essa técnica, Paulo não aprendeu do dia para a noite. Durante os dias em que ocupou as manhãs, tardes e, muitas vezes, noites de trabalho pesado em um escritório de arquitetura, ele usava o pouco tempo livre para rabiscar desenhos em papel sulfite. As pequenas narrativas guiavam Paulo para o antigo sonho de ganhar a vida desenhando para a Disney ou para a Turma da Mônica.

A Disney logo saiu fora dos planos assim que um amigo começou a trabalhar na Maurício de Sousa Produções, em São Paulo. Em poucos dias, o colega promoveu um encontro tenso entre o aspirante a quadrinista com o criador dos quadrinhos mais famosos do país. Depois de almoçar com o ídolo Maurício de Sousa, Paulo mostrou os rascunhos da mochila já esperando pelo pior. O que não aconteceu. Até hoje, Paulo se lembra dos detalhes e das palavras de Maurício:

“Olha só: se você quiser desenhar, ainda vai apanhar muito para acertar os traços corretos. Mas acho que você leva jeito para fazer o roteiro das histórias.”

No começo, a cada três histórias que Paulo escrevia, o chefe aprovava uma. Logo, Maurício de Sousa começou a aprovar todas e hoje Paulo escreve de 160 a 180 páginas de quadrinhos por mês.

“Era complicado porque eu nunca tinha escrito histórias para crianças. É sempre uma batalha, ainda hoje é muito difícil. Quem trabalha na área criativa não pode desligar nunca.”

Para não desligar, Paulo trabalha usando apenas lápis, papel, caneta nanquim e as próprias ideias. “Uma vez me disseram que criar é como um enorme poço em que quanto mais água nós tiramos mais água aparece. Mas se parar, ele seca.”

A fonte das idéias para as historinhas vem de muitos lugares. O roteirista diz que elas surgem das memórias da infância, de inspirações em filmes, desenhos e quadrinhos ou da vida cotidiana. E podem surgir em diversos lugares e a qualquer hora do dia. A Turma da Mônica domina a mente do músico-roteirista e ele sabe bem o preço disso. O emprego dos sonhos é bem remunerado, mas o mérito das histórias vai todo para Maurício de Sousa, que assina todas as histórias embora tenha parado de produzir há anos. Mas nessa regra também há uma exceção.

Em 1990, uma edição dos quadrinhos narrou o nascimento da irmã de Chico Bento, Mariazinha, que morreu quando bebê e virou uma estrela. Quinze anos depois, Paulo teve a ideia de trazer a personagem de volta em “O presente de uma estrelinha”. A história narra a volta da estrela, que desce dos céus para dar a Chico Bento a esperança como presente de aniversário. Depois de ler, Maurício de Sousa se emocionou e resolveu dar os créditos devidos ao criador do roteiro.

Toda vez que relembra essa história, o roteirista barbudo de 50 anos ainda mareja os olhos e se emociona. E então comenta: “Se eu trabalho como adulto, ainda penso como criança”, antes de voltar para a escrivaninha para o próximo plano infalível do Cebolinha e seus amigos.

compartilhe

coment�rios feed

+ comentar
Inês Nin
 

Oi, Pedro, bom demais ler isso! Não sabia que o Maurício de Souza não produzia mais, mas sempre soube que havia um time por trás das historinhas... E o traço, os fãs mais aficcionados até sabem reconhecer e distinguir. Fico imaginando a vida dum cara desse, com dez gatos em casa e um monte de histórias de crianças (e adultos)... :)

Inês Nin · Rio de Janeiro, RJ 9/12/2011 18:53
sua opini�o: subir
Zezito de Oliveira
 

Adólavel história por trás de tantas belas histórias.

Zezito de Oliveira · Aracaju, SE 12/12/2011 13:00
1 pessoa achou �til · sua opini�o: subir
Revista Poranduba
 

Ótima matéria Pedro! Faltou só uma foto do Paulo para ele ficar um pouco menos anônimo. Em 2012 o anonimato deve desvanecer ainda mais, pois a MSP vai publicar um álbum somente com os artistas da casa, escrevendo e desenhando histórias da turminha com seus próprios estilos (e enfim assinando todos os trabalhos).

Revista Poranduba · Campo Grande, MS 12/12/2011 13:01
sua opini�o: subir
Cláudio Carvalho Fernandes
 

Muito bom. Parabéns.

Cláudio Carvalho Fernandes · Teresina, PI 16/12/2011 11:36
sua opini�o: subir

Para comentar é preciso estar logado no site. Fa�a primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.

filtro por estado

busca por tag

revista overmundo

Voc� conhece a Revista Overmundo? Baixe j� no seu iPad ou em formato PDF -- � gr�tis!

+conhe�a agora

overmixter

feed

No Overmixter voc� encontra samples, vocais e remixes em licen�as livres. Confira os mais votados, ou envie seu pr�prio remix!

+conhe�a o overmixter

 

Creative Commons

alguns direitos reservados