Praia da Pipa: Tradição e Contemporaneidade

Iva Kareninna
Praia do Centro - Pipa/RN
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FILIPE MAMEDE · Natal, RN
21/12/2007 · 200 · 12
 

Contexto

No finalzinho de novembro chegou ao fim mais um semestre no curso de Comunicação Social da UFRN. Para mim, foi a conclusão do 8º período, restando apenas para o próximo ano, o tal do TCC, Trabalho de Conclusão de Curso. Mas, antes disso, fizemos o último trabalho da disciplina de Fotojornalismo, ministrada, milimetricamente, pelo professor e fotógrafo, Itamar Nobre. A tarefa consistiu em produzir 10 foto-legendas. Porém, por questão de “contenção” espacial do Overmundo, só pude reproduzir sete fotografias.

A razão

Escolhemos produzir foto-legendas referentes à Praia da Pipa, pela relação, de certo modo, maniqueísta, que se desenvolve no local. Ali, passado e presente, vivem num confronto diário. Pois, se por um lado os processos de crescimento urbano e turísticos podem trazer inovações técnicas e culturais e, inserir, definitivamente, comunidades como Pipa na economia de mercado, trazendo o que para alguns seria ‘progresso”, por outro lado também descaracterizam os núcleos primitivos e desestabilizam o equilíbrio existente entre cultura de subsistência, atividade artesenal e ajuda mútua, não substituindo esses mecanismos de sobrevivência por oportunidades de emprego suficientes e o acesso democrático à bens de consumo e serviço.


Dona Zilda e arte na renda de bilro

As mãos que tecem essa renda com bilros são de Zilda Marinho, 73 anos. Aos sete anos, ao observar o bordado de sua mãe, ela aprendeu sozinha o primeiro ponto, o chamado “olho de pombo”. Daí em diante, a famosa “Dona Zilda” passou a entrelaçar com maestria os fios que depois de meses de trabalho viram almofadas, colchas, vestidos... Por ser uma das poucas rendeiras de bilro na Praia da Pipa, ela acabou se tornando mais uma atração turística.

A igrejinha

A igreja de São Sebastião, situada no largo de mesmo nome, retrata a expressão religiosa dos pipenses. O cristianismo trazido pelos colonizadores europeus preponderou sobre as influências indígenas e negras e permanece como a religião da maioria dos moradores. Na capela, realizam-se missas, velórios, batizados, casamentos; e no largo, todo mês de janeiro, acontece a festa em homenagem a São Sebastião, padroeiro do município.

A pedra de São Sebastião

O santo protetor dos soldados e guardião do amor, São Sebastião, tem uma relação antiga com os moradores da Praia da Pipa. Conta-se que em 1918, a Febre Espanhola tomava conta de várias regiões do Brasil. Para livrar a Pipa da peste, uma certa Dona Chica Castelo fez uma promessa a São Sebastião e prometeu construir uma igreja em seu nome. O pedido parece ter sido atendido, pois nenhum morador contraiu a doença.

A capela foi construída e anos depois foram feitas duas imagens do santo. Uma delas foi colocada sobre o altar da igreja e a outra foi cravada em uma pedra no porto, simbolizando a benção e a proteção de São Sebastião aos barcos dos pescadores que saem toda madrugada com seus candeeiros acesos rumo ao alto mar.


O porto da Pipa

O porto da Praia da Pipa é uma região de águas mornas que na maré baixa forma inúmeras piscinas naturais. Nele atracam, diariamente, botes, barcos e lanchas. Só é possível partir para o alto mar quando a maré sobe e, existe apenas uma brecha entre nos recifes de corais que possibilitam a entrada e saída de barcos e surfistas aventureiros. São poucos os que conservam a antiga atividade de pesca artesanal. A maioria dos trabalhadores investe no passeio turístico. O roteiro marítimo vai da Praia do Madeiro à Praia do Amor.

Pescando a vida

A Pipa que se conhece hoje surgiu como um pequeno lugarejo que vivia apenas de atividades de subsistência. A pesca é uma das práticas mais antigas da região que ainda sobrevive. Porém, nos últimos anos, a atividade vem perdendo espaço para práticas ligadas ao turismo, este, nem sempre, sustentável... Osmar Prado, de 26 anos, é um dos poucos que sobrevive como pescador e sustenta toda a sua família.

Praia dos Golfinhos

A enseada dos Golfinhos faz parte do complexo de praias da Pipa. Seu recorte geográfico configura uma pequena baía isolada por falésias pelos dois lados, formação que restringe o acesso aos visitantes que se deslocam a pé. Antes conhecida como Praia do Curral, a enseada teve seu nome modificado em razão da aparição constante de golfinhos, que até hoje agraciam os espectadores com belas acrobacias.

Dias de hoje

O crescimento da Praia da Pipa, principalmente ao longo dos últimos vinte anos, ocasionou diversas mudanças naturais e sociais. Uma das alterações físicas evidentes é a expansão das edificações, com a construção de casas, hotéis, pousadas, bares, restaurantes e barracas de praia. Em toda a orla marítima é possível encontrar algumas áreas verdes, mas na praia do centro, o que se vê é uma área 80% ocupada. Essa situação já traz problemas sérios, como erosão costeira e elevação da temperatura média da região.


Iva Kareninna
Filipe Mamede

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Higor Assis
 

Olá Filipe.

Eu quero ver você escrever que não é um cara privilegiado. Parabéns pelas fotos da sua amiga, pelo texto rico de detalhes e que nos faz sonhar com alguns dias de pés descalços sem pressa pra mais nada do que aproveitar a beleza natural do nosso Brasil.

É Pernambuco amigo que vou - 10/01.

Higor Assis · São Paulo, SP 18/12/2007 16:32
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FILIPE MAMEDE
 

Valeu pela visita Higor. Espero que você aproveite bastante sua vinda à Pernambuco. Estarei por lá um pouco depois; duranto o carnaval. Quanto à Praia da Pipa, o lugar em cerca de 20 anos passou de um simples vilarejo de pescadores e agricultores, à uma cidade cosmopólita, abrigando uma intensa vida noturna e dando abrigo à pessoas do mundo inteiro.
Um abraço.

FILIPE MAMEDE · Natal, RN 19/12/2007 09:34
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Higor Assis
 

Vai vendo rs...

votado.

Higor Assis · São Paulo, SP 20/12/2007 12:15
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Andre Pessego
 

Filipe, aceita meu parabens pela conclusão curso;
E muita sorte; muito esforço e muitas bênçãos,
andre.

Andre Pessego · São Paulo, SP 20/12/2007 17:20
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Joca Oeiras, o anjo andarilho
 

Querido Filipi:
Se deres uma olhada na sala de edição do overblog verá que postei, há poucas horas, um prometido texto de balanço da primeira fase do nosso overlivro, encerrada no último dia 18. Mas, ao mesmotempo, eu fico um pouquinho triste com a sua pergunta pois, a minha intenção, quando criei o grupo, foi que todos os colaboradores estivessem imformados do andamento do Livro. E o pior é que eu acho que muitos colaboradores, oAndré é um deles, não compreenderam a importância decisiva do grupo para o nosso sucesso. Quero me encontrar com você lá no grupo, ok?
beijos e abraços
do Joca Oeiras, o anjo andarilho
PS Fiquei com inveja da tua praia!

Joca Oeiras, o anjo andarilho · Oeiras, PI 20/12/2007 20:05
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Cintia Thome
 

Filipe, maravilhoso trabalho de equipe e interessante falar da Febre Espanhola,ouvia muito as estórias de minha avó quando aqui chegou perdendo familiares...mas este lugar é sagrado, praia linda...Quando estive aí as rendas de bilro são perfeitas. Por aí se tem rendeiras perfeitas.Sucesso pra você, porque aqui já ganhou, rs. Parabens a Iva Kareninna também pela precisão das imagens.
abç

Cintia Thome · São Paulo, SP 21/12/2007 21:24
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Adroaldo Bauer
 

Belos instantâneos, Filipe.

Avante!

Adroaldo Bauer · Porto Alegre, RS 21/12/2007 23:29
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FILIPE MAMEDE
 

Poxa, muita obrigado pela visita, Cintia e Adroaldo. A Praia da Pipa tem sido um destino comum para mim nos último tempo. No começo do ano começo a produzir um documentário como Trabalho de Conclusão de Curso enfocando justamente a questão do crescimento urbano do lugar; o que isso tem causado, para o bem e para o mal. Um abraço pra vocês e um Feliz Natal.

FILIPE MAMEDE · Natal, RN 22/12/2007 02:03
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Spírito Santo
 

Filipe,

Como sempre, muito bom, conciso e pertinente.

Grande abraço

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 22/12/2007 19:51
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Mangabeira
 

Despertou-me a nostalgia da Pipa de anos outros, quando uma barraca atada às costas era garantia de albergue e guarida pra diversão e concupiscência. De mesmo, somente as loiras suecas, que vez por outra aportam por aquelas bandas... abçs,
www.ovisnigra.org - mangabeira@ovisnigra.org

Mangabeira · Natal, RN 10/1/2008 21:51
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Li Silva
 

Ah, Felipe, conheço a Pipa há mais de 20 anos e dói muito ver o que aconteceu com a ocupação exagerada da paisagem litorânea, sobretudo a parte de cima da falésia, onde as pousadas tiraram a vista do mar de quem chegava na praia e os condomínios estão arrancando toda a vegetação nativa mais prá dentro. No entanto, gostei de ler a respeito da sobrevivência dos costumes do lugar. Valeu! Li

Li Silva · João Pessoa, PB 1/4/2008 09:49
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Natália Amorim
 

Praia, renda e pescador. Não fui a Pipa, mas depois dessa irei. Com bilro então.
Até.

Natália Amorim · Rio de Janeiro, RJ 20/5/2008 17:02
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Dona Zilda e a renda de Bilro zoom
Dona Zilda e a renda de Bilro
Igreinha de São Sebastião zoom
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O porto da Pipa zoom
O porto da Pipa
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