colaborações publicadas
“Um sonho. Eu era um Deus faminto, roto, sujo e descalço, perambulando errático, como um cadáver sonâmbulo, pelas ruelas de uma cidadezinha do interior. Era um povoado tedioso, sem correio ou telégrafo, isolado, esquecido, à margem da civilização. Eu estava a procura desesperada de um homem colorido (pois eu era um Deus em preto e branco; pior: eu era apenas o meu negativo,...
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“Eu ia chegando do hospital onde trabalho quando alguém me disse que minha irmã havia sofrido uma parada cardÃaca no ponto de ônibus e estaria atrapalhando o tráfego e pior: devido a isso chegaria muito atrasada no escritório. Interessante é que nesse escritório eles não toleram demoras, daà eu fiquei muito preocupada com o emprego de minha irmã, afinal ela não tinha...
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Passeio Bucólico
Certo dia chuvoso, um conhecido e decadente mestre de zen-budismo, famoso pelo seu conceito de beleza interior (“É quando almoçamos uma deliciosa feijoada em companhia do maitreâ€) meditava a beira de um rio muito caudaloso. Inesperadamente observa o que seria uma visão surpreendente e miraculosa: um dos seus discÃpulos – justo aquele que gostava...
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Pergunta –
A senhora já tinha escrito exaustivamente sobre diferenças entre homens e mulheres. Por exemplo: o fato de que mulheres preferem falar com outra pessoa frente a frente, fitando a nuca da outra, a procura de um fio de cabelo, talvez, ou de uma presilha, uma sarda, uma mancha de betume.
Certamente é um gesto adquirido como comprar...
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O Convento
Um velho e triste monge do Tibet, que trabalhava na construção civil, colecionava tampinhas de refrigerantes nas horas de folga. Ele já possuÃa muitas e muitas tampinhas, coloridas, esféricas, com citações do zen-budismo, do taoismo, mas nenhuma premiada com uma bicicleta ou mesmo um velocÃpede ou um par de patins. Um dia o monge bradou desesperado aos...
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“’Ele voltou. Tenta-me. Assedia-me com a felicidade, a alegria, o prazer. Fala em ‘novos tempos’, ‘realizações’, revela-se ‘otimista’. Diz-se ‘viciado em não morrer’. Explica, didático: ‘não saberia viver a expectativa da morte’, do gran finale. Não ama os cemitérios, os ataúdes, as lápides, ignora os enterros, velórios, odeia procissões ou ‘missas’;...
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- Deve-se lavar o cabelo toda semana?, indaga repentina e inusitadamente o professor.
Os circunstantes, perplexos, quedam os tocos de velas ainda apagadas e entreolham-se curiosos e risonhos. Um robusto bebê mÃope, ainda com olheiras (pois era filho bastardo do burgomestre; além disso ele não ‘conseguia’ assobiar alto sem demonstrar angústia), ensaia um choro...
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“Você já não é mais perfeita?
...não... naquela época, foi em inÃcio de 70, creio, eu brincava de ilusão, brincava de medo, de acasos e sentimentos inexistentes (como a luxúria, o peculato, por exemplo)...era uma loucura...eu estava alheada, pequena...voava um pouco sobre as pontes e edifÃcios (eu tinha uma bela cruz no peito, sei)...e alimentava-me de abóboras...
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“‘Ela’ reapareceu. Misteriosa e enigmática como sempre. A ‘Greta Garbo divina’ como é chamada. Pediu-me um cigarro e um pouco de atenção. Lembrou-me o nosso passado, nosso ‘caso’, como ela diz. Dei-lhe uma rosa vermelha (ela não merece mais) com apenas 2 pequenos espinhos. Piqueniques, jardim zoológico, aventuras fugidias...Passeios e namoros noturnos...aquela...
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“Não ensinaram-me a ser Deus, ninguém disse como devo agir, como pensar, quais as minhas regras e normas de comportamento (não existem escolas de Deus, mestres de Deus): o fato é que tornei-me Deus (sou Deus desde pequininho e nunca saberia ser outra coisa senão Deus). Estabeleci meus próprios ditames para uma escala de valores também criada por mim (eu criei a escola e...
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