Dizem que ele tem 50 anos de carreira e dizem também que é Rei. Eu tenho cá minhas dúvidas.
Não sei quando exatamente teve início a história de Roberto. Para mim, não foi em 59, com o lançamento do seu primeiro compacto, sob as bênçãos canalhas de Carlos Imperial e do iêiêiê. Tem coisas menores que não cabem na história de um verdadeiro rei, e a Jovem Guarda é uma delas.
Seu início como músico de fato foi quando começou a flertar com a black music, com boas pegadas musicais e letras mais densas, sofridas. De 69 – portanto dez anos após sua estréia oficial - “As curvas da estrada de Santos”, “Sua estupidez” e “As flores do jardim da nossa casa” são expressões máximas de um compositor e intérprete maduro, digno de ser tratado como majestade.
Assim como foi transitória a Jovem Guarda, a fase suol de Roberto Também o foi. Mas, até que ele encontrasse eterno refúgio no repertório abertamente romântico, boas canções gospel vieram como bônus nesse período de transição, como “Jesus Cristo” e “Todos estão surdos”.
Mas ai, Roberto já estava pronto. Cantava e compunha de um jeito só dele. A voz pequena, mas sempre carregada de uma emoção sincera e bem colocada. As canções nunca foram esmeradas, mas eram belas justamente por serem simples e tocarem direto no coração, sem precisarem de decodificação cerebral. Como Roberto estava pronto, poderia seguir qualquer caminho.
E ele foi pelo caminho do romantismo - não por opção ou oportunismo, mas porque estava predestinado. Cantar o amor era a estrada evolutiva de seus rocks juvenis da época da Jovem Guarda e da melancolia da fase black.
“Detalhes”, de 71, pode ser considerado o marco inicial do Roberto que foi o rei dos motéis, um cantor de entrega total, sem pudores, que descrevia cenas de sexo com o desabotoar da blusa da amada, os travesseiros soltos, a roupa pelo chão, os braços que se abraçam e as bocas que murmuram palavras de amor enquanto se procuram (“Os seus botões”).
Roberto Carlos tocava em todos os motéis, mas também participava dos almoços de domingo das famílias brasileiras. Presentear seu disco e ver seu especial na TV durante o Natal se tornou um hábito, como o de ir à missa aos domingos. A cada ano, religiosamente, seu LP vendia um milhão de cópias e suas canções entravam para a memória afetiva de pessoas de todas as idades e classes sociais.
Outono
Mas não tardou muito, pouco depois de iniciada a década de 80, Roberto sucumbiu. Talvez pela obrigação desgastante de lançar um álbum autoral por ano. Talvez por sua fé excessiva, que reprime os impulsos de criatividade. Talvez por sua reclusão e pelos infortúnios amorosos. Talvez mesmo por sua condição humana, de ter reduzida a capacidade criativa com o passar do tempo.
O que antes era simplicidade logo se tornou breguice, sem meios termos. Seu romantismo perdeu o poder de sedução, tornando-se pobre e triste. Suas canções religiosas de hoje em nada lembram as de antigamente.
Há mais de 20 anos, Roberto encerrou sua carreira, iniciando um flash back contínuo. O mesmo repertório, os mesmos arranjos ultrapassados, os mesmos ternos azuis e os mesmos cenários de shows (que mais parecem cenários televisivos, tamanho o mau gosto). Até seu público continua o mesmo, envelhecido como ele. De bom, ficaram os muitos clássicos e sua interpretação, sempre sincera e comovente.
Apesar de um outono criativo superior a duas décadas, a mídia não faz críticas a Roberto Carlos, que hoje anima cruzeiros marítimos para senhoras e manda para a fogueira milhares de livros (no caso, 11 mil exemplares de sua biografia não-autorizada, incinerados em 2007).
Mídia
Tal silêncio talvez porque Roberto seja contratado da TV Globo, que padroniza o discurso da mídia em seu favor, ou talvez porque não queiram macular a imagem do maior ídolo popular do país, um cantor que se tornou uma verdadeira instituição nacional. O fato é que, se foi rei, Roberto perdeu completamente a majestade.
Mas ele segue em frente, fazendo do seu aniversário de carreira um produto com as marcas do banco Itaú, Nestlé e TV Globo - tal qual nos tempos da Jovem Guarda, quando inaugurou a era mercadológica da música brasileira, com a venda de calças, cintos e outros badulaques do movimento juvenil.
Com a autoridade de um dos poucos não súditos do cara, pergunto: Porque ninguém comenta o fato notório de que RC, lá para as tantas, passou a comprar 'sucessos' de um grupo seleto de autores de anonimato devidamente contratado?
Seria um complô de súditos para não queimar a magestade do cara? Coisa feia, não?
Sempre ouvi essa "teoria da conspiração" de que a mesma pessoa que compunha as belas canções de antes jamais poderia escrever as breguices de agora. Disso, não sei. Só acho que ele deveria tentar se reinventar, ou então dar a carreira por encerrada.
Flávio Herculano · Palmas, TO 12/8/2009 10:16Besteiras ou não, todos tem direito de opinar.
Flávio Herculano · Palmas, TO 13/8/2009 08:32
Flávio e Clério,
'Teoria da conspiração' nada. Besteiras sim, claro (inclusive Dele) mas, a história dos 'comprositores' ou autores alugados por RC é a mais pura verdade. Eu mesmo me lembro de ter lido uma matéria com entervistas e fotos das figuras, com depoimentos relacionando as músicas que cada um afirmava ter composto, depoimentos obviamente negados, veementemente, tempos depois.
E desde quando falar verdades é desrespeito, gente? Em se tratando de Brasil quem serai ingênuo a ponto de duvidar.
Flávio,
Parabéns!
Um artigo que diz muito do que penso, mas que por falta de tempo, não encontrei condições para escrever.
Vou incluí-lo em meus favoritos com o maior carinho. Também já escrevi outros três artigos sobre música e sociedade, organizado em uma sequência que intitulei de "portal do som" se quiser conferir é só ir lá no meu perfil.
Outros três já foram iniciados, mas o tempo é escasso e aguardam conclusão. Caso volte a escrever outros artigos nesta linha, pode enviar-me um aviso.
Abraço,
Flávio e Spirito.
Antes da queima da biografia consegui comprar um exemplar e um amigo enviou-me a versão em PDF e essa questão da compra de composições não é citado (salvo engano).
A propósito de sua afirmação, seria legal citar as fontes com mais precisão. É uma boa sugestão para uma matéria investigativa, não apenas sobre a ligação do fato com RC, como também com relação a outros cantores de sucesso.
e por ai vai... RC foi mu ídolo na juventude, mas parece que o rei perdeu a magestade mas não perdeu o trono. bjs
Doroni Hilgenberg · Manaus, AM 26/4/2011 19:17Para comentar é preciso estar logado no site. Fa�a primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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